Conheça as transformações que as redes sociais fizeram no cérebro e na chamada amizade virtual.
“Curtir”, “Amei e “Haha”: na era digital, basta soltar um desses no Facebook para dizer o que sente sobre um momento, uma pessoa e as publicações em geral. Os amigos mais próximos não hesitam em clicar no “Amei” a cada foto sua, mas os colegas geralmente lançam mais o “Curtir”. A verdade é que as redes sociais mudaram completamente as definições de amizade.
No Dicionário Aurélio, a palavra “amizade” aparece como “afeição recíproca entre dois entes”, “boas relações”. E, para o termo “amigo”, é “ligar(-se) por laços de amizade”. Desde o surgimento da Internet para a grande massa, as relações sociais ganharam novos significados. As pessoas passaram a interagir nas salas de bate-papo, nos fóruns e, atualmente, nas redes sociais.
Uma das redes mais famosas é o Facebook. A grande criação do programador e empresário norte-americano Mark Zuckerberg já tem mais de 500 milhões de usuários. O que essa ferramenta proporcionou foi a conexão de pessoas, seja de onde for. Porém, fica o questionamento: as amizades online fazem com que as pessoas acabem se isolando e tenham menos amigos offline, “os amigos de verdade”? A pergunta foi abordada em 1995 pelo sociólogo norte-americano Robert Putnam e coloca os pontos positivos e negativos da amizade nas redes em pauta.
A rede social aproxima
Uma das grandes vantagens que as redes sociais proporcionaram foi destruir as barrerias físicas existentes tanto no macro, quanto no micro espaço. Pensando no macro, podemos facilmente nos comunicar com pessoas ao redor do mundo sem sair de casa. Essa facilidade não só nos dá chance de interagir com outras pessoas diferentes, mas com culturas e hábitos pouco conhecidos para nós. Isso faz com que os indivíduos se tornem mais abertos ao novo e respeitem as diferenças. Conhecer pessoas de outros países se tornou infinitamente mais fácil graças às redes.
No ambiente “micro”, podemos atrelar os benefícios das redes sociais ao sucesso que as pessoas tímidas e antissociais têm em fazer amigos, coisa que antes da Internet era raro e difícil de acontecer. O fenômeno teve início lá nas salas de bate papo e em fóruns, ambos espaços que concentram um grande número de pessoas reunidos com o mesmo objetivo e gostos.
Conhecer pessoas deixou de ser um martírio para alguns, já que nos espaços físicos isso era eles raramente o faziam, seja por falta de identificação com o meio, por não partilharem os mesmos interesses ou por qualquer outro motivo que os fizessem inaptos a fazerem novas amizades. Hoje, é comum ter mais amigos virtuais que aqueles que conhecemos cara-a-cara. A amizade virtual dá a chance de seremos nós mesmos, sem tanto julgamento, como acontece com o contato físico onde muitas vezes tecemos preconceitos acerca da roupa que o outro está vestindo, a maneira como fala ou onde vive.
A Universidade de Toronto realizou um estudo em que constatou que a internet aumenta o número de amigos dentro e fora das redes. A pesquisa colocou em cheque a premissa de Robert Putnam acerca do tema: a internet faz com que as pessoas tenham menos amigos offline.
As redes se tornaram grandes potencializadoras na construção de novos amigos. Um estudo realizado pela Universidade de Michigan observou que o vigésimo maior uso do Facebook, depois da interação com amigos, é olhar os perfis de pessoas que acabamos de conhecer. Ou seja, sem a internet, aquele contato recém realizado poderia muito bem nunca mais dar as caras e nunca mais veríamos a pessoa. Porém, com as redes, basta jogar o nome da pessoa na barra de pesquisa e enviar uma solicitação de amizade, caso o perfil lhe agrade.
A rede social pode te iludir
“As pessoas a quem você está conectado não são necessariamente suas amigas de verdade”, explica o sociólogo Nicholas Christakis, da Universidade Harvard. Assim como as redes podem aumentar o nosso número de amigos, ela também pode enganar. Nem todos os contatos adicionados nas redes são amigos e isso pode iludir muita gente.
“A epidemia oculta” – é como o Reino Unido se referiu à solidão. Os números corroboram com o termo, já que mais de 9 milhões de pessoas dizem viver permanentemente ou frequentemente sozinhas, de uma população de 65,6 milhões, segundo a Cruz Vermelha Britânica. O medo da solidão faz com quem muita gente se apoie cada vez mais na segurança que a internet finge dá, onde um grande número de amigos adicionados quase sempre não reflete a realidade de amigos verdadeiros.
Embora para muita gente manter o contato apenas via internet seja o bastante, os cientistas descordam. Para eles, a distância física continua sendo um fator prejudicial para a manutenção dos laços de amizade. “A internet faz com que você consiga desacelerar o processo, mas não salva as relações. No fim das contas, ainda precisamos estar próximos das pessoas de vez em quando”, acredita o antropólogo Robin Dunbar. Uma parte expressiva dos especialistas em relacionamento humano acredita que a proximidade física é vital para sentirmos os efeitos benéficos das amizades profundas.
A rede social afeta o cérebro
Através de um estudo, a Universidade da Califórnia está dando os primeiros passos rumo aos efeitos que as redes sociais produzem no organismo. Na pesquisa, os cientistas observaram que os níveis de ocitocina aumentam quando as pessoas utilizam o Twitter, por exemplo. Aqui, o efeito é benéfico, já que os primeiros resultados mostraram que tuitar estimula a liberação da ocitocina, consequentemente diminuindo os níveis de hormônios como cortisol e ACTH, associados ao estresse.
Paul Zak, neuroeconomista norte-americano, enxergou nisso uma nova maneira de interpretar as redes e o que sabemos sobre as relações sociais. “O cérebro entende a conexão eletrônica como se fosse um contato presencial.O sistema de ocitocina está sempre se ajustando ao ambiente em você está. Pode ser que, de tanto interagir em redes sociais, as pessoas estejam se tornando mais sintonizadas para a amizade. E aí elas acabam fazendo mais amigos, inclusive presencialmente.”
Isso quer dizer que, além de reconfigurar a amizade, a internet pode alterar o funcionamento do cérebro em resposta. O contato físico continua sendo primordial, mas pode ser que, daqui uns anos, o nosso próprio processo evolutivo dê um jeito nisso e confie mais ainda no poder das redes sociais e amizade.