A estrela de Hollywood Jennifer Aniston é uma das atrizes de maior sucesso desde que protagonizou o seriado Friends, nos anos 90. Desde então, os holofotes nunca a deixaram, porém, quase como rotina, Jen é alvo de comentários maldosos e uma incessante perseguição, tudo porque a eterna Rachel jamais será mãe. Aos 50 anos de idade, a atriz nunca se livrou do questionamento e declarou em uma entrevista o quanto isso a machuca. “Ninguém considera como isso pode ser para um parceiro e para mim, e não sabem o que já passei física e emocionalmente. Existe uma pressão para as mulheres serem mães, e se elas não são, elas não são boas. Talvez meu propósito neste planeta não seja procriar. Talvez eu tenha outras coisas que possa fazer”.

Ao mesmo tempo que Jennifer, uma mulher bonita, bem-sucedida, acima dos 40 e sem filhos é perseguida, Leonardo Di Caprio, um homem bonito, bem-sucedido, acima dos 40 e que também não tem filhos, não sofre esse tipo de perseguição. Das poucas vezes que foi questionado sobre ainda não ter sido pai, Di Caprio declarou: “Você quer dizer se eu quero trazer crianças a um mundo como esse? Se acontecer, aconteceu. Eu prefiro não adentrar no assunto porque isso pode ser descontextualizado. Se eu me aprofundar sobre como me sinto sobre o assunto serei mal-interpretado”. E o mundo pareceu assentir, aceitar e não tocar mais no assunto. Enquanto que Jen jamais se livrou do estigma.

Por que, caro leitor, Jen e Di Caprio, ambos com a mesma profissão, status, dinheiro e acima dos 40, têm tanta diferença no modo como são tratados? Se a sua resposta foi machismo, acertou na mosca. A humanidade sempre se viu no direito de decidir pela vida das mulheres e pintá-las como seres angelicais, divinos e com a sagrada missão de trazer vida ao mundo. Mesmo que sejam aptas para gerar um filho, muitas simplesmente não querem, e por que a sociedade se acha no direito de julgar ou questionar a decisão de um outro ser humano? Afinal, quando se tem um filho, nascem outras responsabilidades. É a sociedade que vai arcar com essas responsabilidades? Não, não é. Quando uma mulher decide não ter filho, seja pelo motivo que for, acredite, ela pensou muito no assunto.

Hoje, são 7 bilhões de pessoas habitando o planeta Terra. Há países que sofrem com a superpopulação, outros que vivem na miséria e pobreza, e a violência parece não dar trégua. Mesmo assim, a sociedade ainda se incomoda com as mulheres que não querem trazer uma criança ao mundo. No atual cenário mundial, as mulheres participam ativamente do mercado de trabalho, as famílias optam por ter menos filhos e as mulheres finalmente estão decidindo mais sobre os próprios destinos. Mesmo assim, a sociedade ainda se incomoda com as mulheres que não querem trazer uma criança ao mundo.

“Nunca me vi nesse papel”

Jessica Miranda tem 30 anos, namora e é gerente de Marketing Digital. Desde cedo, ela nunca se identificou com as brincadeiras de casinha ou bonecas, mas as Barbies que tinham profissão brilhavam aos seus olhos. “Acho que eu sempre soube, mas faltava admitir para mim mesma”, comenta. A vontade de ser mãe nunca existiu em Jessica, porém ela achava que isso eventualmente apareceria.

“Tive contato muito próximo com amigas que viraram mães, acompanhei todo o processo e nunca me vi nesse papel. A vontade nunca existiu, e depois de pensar racionalmente em todas as implicações de ser mãe, cheguei a conclusão de que não quero. Existe “ex” para tudo nessa vida, mas “ex-mãe”, não. Lidar com isso envolveu muita reflexão e projeção, mas a parte mais delicada, creio eu, é o outro. Eu estou bem resolvida com a minha decisão, hoje eu lido bem e assumo publicamente a minha posição. É diferente, sabe? Um pensamento pode viver muito tempo na sua cabeça, mas quando você diz em voz alta e consegue dizer para os outros, considero que o tópico está resolvido mesmo”, aponta.

A pedagoga e doutora em Ciências da Educação, Elane Tonin, tem 43 anos e também sempre soube que a hora da maternidade nunca seria uma realidade para ela.

“Desde de muito cedo percebi que não seria mãe, apesar de ter cuidado de muitos sobrinhos. Mas sempre pareceu algo assumidamente comum e simples na minha vida, assim lidar com esse fato. Acredito que optamos pela maternidade ou não, como optamos por outros rumos e caminhos em nossa vida. O discurso da maternidade é apreendido e utilizado por muitos como mecanismos de culpabilizar ou diferenciar mulheres que optam por não se tornarem mães. Nesse sentido e percebendo isso, fiz a opção muito consciente e tranquila pela não maternidade”, explica.

“Você é egoísta’, me dizem”

Com certeza Di Caprio nunca ouviu que é egoísta por nunca ter tido filhos, em contrapartida, Jennifer Aniston já teve que ouvir muitas acusações. “É uma loucura. Dizem ‘Jen não consegue manter um homem’ e ‘Jen se recusa a ter um bebê porque ela é egoísta e comprometida com a carreira’, ou que estou triste ou de coração partido. Eu não estou. E isso são conclusões sem base. Ninguém sabe o que se passa atrás de portas fechadas”, confessa.

Culpar, apontar o dedo, julgar e chamar de egoísta aquelas que optaram pela vida sem filhos é comum, mas não deveria ser. Ter filhos é uma responsabilidade imensa e um trabalho para a vida toda. Algumas mulheres simplesmente não desejam viver esse papel, uma escolha previamente pensada, discutida e refletida. Mas e os pais que têm filhos e abandonam suas parceiras e filhos? Isso sim é egoísmo. Isso sim é maldade. No Brasil, mais de 1 milhão de famílias são compostas por mãe solo, segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Juliene Cabeiro tem 30 anos e é coordenadora de Marketing Digital. Diferentemente de todas as primas, ela optou por não ter filhos, pois nunca foi um desejo seu.

“Eu não quero colocar um filho nesse mundo que vivemos. Não quero essa responsabilidade”.

Juliene, Jessica e Elane já se cansaram de ouvir que são egoístas ou outras frases clichés de quem tenta mudar a cabeça delas.

”Dizem que vou mudar de ideia, que sou egoísta, que nunca serei uma mulher completa e plena se não experimentar a maternidade, que estou negando uma grande benção”, conta Jessica.

“Não me sinto incompleta, egoísta ou qualquer outro estereótipo da mulher que optou em não ser mãe. Não penso em termos de vantagens ou desvantagens, penso em decisões, em opções e escolhas”, observa Elane.

“Quero outras coisas para mim”

Juliene gosta de viajar, sair, conhecer lugares novos, estudar e focar na carreira. Para ela, a liberdade é um questão muito importante.

“Nunca quis dividir o meu tempo e as minhas coisas com outra pessoa. Quero viajar bastante, ser independente. Ser mãe nunca foi um desejo, nem mesmo quando eu era casada”, conta.

“Nunca disse: Ah quando tiver filhos, ou quero fazer ‘x’ coisas com meu filho. Não tenho dúvidas que criaria um ser humano ótimo, mas não quero. E também penso que criar um ser humano é a maior responsabilidade que você pode assumir, e a menos que você esteja 100% certa disso, isso será um erro. As coisas que você terá de sacrificar na sua vida, o jeito que as exigências do mundo estão aumentando os recursos se tornando escassos, cabe pensar, você precisa mesmo trazer outro ser para o mundo? A liberdade de escolha sobre todas as minhas ações é essencial para mim”.

Por que as escolhas conscientes incomodam? Não deveria, não é? A responsabilidade de ser ou não ser mãe cabe somente a quem vivencia essas realidades.

Muitas mulheres sofrem por não nutrirem em si o desejo e a missão de serem mães, pois esse papel está há muito tempo enraizado na nossa cultura. Ir contra o que a sociedade espera é um grande desafio.

“Sinto que é difícil para as outras pessoas conceberem a ideia que ter mulheres que não estão interessadas em reprodução e no universo da maternidade”, comenta Jessica.

A questão da maternidade também influencia nos relacionamentos que essas mulheres terão, afinal, e se o parceiro deseja ter filhos? Para Jessica, esse foi um de seus maiores medos.

“Ter que partilhar isso com o meu parceiro e como isso poderia afetar meu relacionamento, pois se ter filhos fosse algo essencial para ele, não poderíamos continuar juntos”, conta.

Seja como for, com filhos ou sem filhos, o que importa mesmo é estar segura de sua decisão. Ser feliz, completa e plena com o caminho que escolheu para si — e deixar de se importar tanto com o caminho que outras mulheres seguiram.

“Digam de vez em voz alta, não pensem em ter filhos por pressão da sociedade, da sua mãe do seu parceiro, não existe nenhum padrão de vida que uma mulher precise seguir. Maternidade é uma escolha e não uma obrigação”, finaliza Jessica.

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