O paciente é o único e verdadeiro arquiteto de sua saúde e bem estar. Quando possui uma doença, o problema não é só controlar a patologia, mas gerenciar a vida apesar da enfermidade. Delegar os cuidados de saúde somente aos profissionais da área pode ser um problema a longo prazo.

O sistema de saúde encontra-se focado na doença aguda e afasta-se das doenças crônicas. Esse movimento culmina em pacientes desinformados e despreparados para realizar o autocuidado, provocando, com isso, um paciente mais suscetível ao adoecimento.

LEIA MAIS: Como a saúde mental impacta o sistema imunológico

O empoderamento do paciente e o autocuidado são as formas mais eficazes de lidar com as doenças crônicas, permitindo que o paciente tome consciência crítica em relação aos seus problemas de saúde.

Essa maneira de entender o processo de adoecimento, concede ao paciente e aos profissionais de saúde uma visão mais abrangente e integral do problema. Dessa forma, não se fixa apenas na cura ou estabilização da doença, mas cria-se a possibilidade de um cuidado empoderado, que permite à pessoa a aquisição de um conhecimento de si e daquilo que a cerca.

O que é o empoderamento do paciente?

O empoderamento do paciente pode ser entendido como um processo de capacitação dos indivíduos e comunidades perante o âmbito de sua própria saúde. Dessa forma, a pessoa consegue assumir maior controle sobre os fatores pessoais, socioeconômicos e ambientais que afetam o seu bem estar.

Trata-se de um processo transformador para auxiliar doentes, familiares e cuidadores a ganharem conhecimento. Sendo assim, tais sujeitos também fazem parte do processo de tomada de decisão e possuem iniciativa quanto a própria saúde. Então, ocorre uma apropriação, junto com os profissionais da área, sobre qual o melhor caminho de enfrentamento da doença.

O empoderamento proporciona um maior diálogo entre os médicos e o paciente/comunidade. Quando isso ocorre, é possível indicar e identificar as necessidades que levam a uma intervenção em virtude do que é preciso ser feito, contando com o protagonismo desse sujeito doente para a promoção de sua saúde.

LEIA MAIS: A influência da alimentação saudável na saúde mental

O paciente informado e familiarizado com sua condição de ser está mais envolvido com o seu tratamento. Nesse sentido, sente-se mais seguro e esperançoso quanto a evolução do prognóstico de sua doença.

Propiciar o empoderamento do paciente é conhecer de perto os usuários, o contexto, as potencialidades e as adversidades, numa prática de saúde humanizada. Dessa forma, tal prática está focada também em determinantes sociais e objetivando uma intersetorialidade e interdisciplinaridade.

A mudança de paradigma permite pensar no adoecimento como um processo de saúde como um todo, não tendo um olhar compartimentalizado e focado apenas numa parte do sujeito doente.

A figura do paciente “ativo”

Existem opiniões contrárias que temem essas mudanças nas relações de poder dos profissionais da saúde, pois seriam “uma ameaça”. Entretanto, empoderar o paciente não significa tirar o poder desses profissionais, mas possibilitar que se tenha mais tempo para ouvir o paciente. Isto é, nesse âmbito é importante ir além do diagnóstico e tratamento, possibilitando que a pessoa tenha uma vida mais proativa e gratificante.

Os pacientes não são mais “passivos”, pois estão entendendo sua doença ao desbravarem esse universo através do “Dr. Google”. Essa mudança no processo de enfrentamento da doença acaba com a antiga visão do “médico-deus-todo-poderoso”. Isso significa o fim do paternalismo médico e acrescenta a disseminação do conhecimento, transformando a saúde/doença em um sistema mais democratizado.

LEIA MAIS: Confira esses 5 exercícios que te ajudarão a manter a saúde mental

O modelo paternalista e tradicional da saúde, que ignora as preferências do paciente, muda o foco para prestar atenção as necessidades e opiniões do indivíduo. Nesse contexto, ele possui uma voz ativa dentro do procedimento médico.

Com relação as doenças crônicas, o empoderamento do paciente é fundamental, afinal, elas dependem do autocuidado junto com o cuidado do profissional. Ao aprenderem a cuidar de si, esses portadores terão mais chance de se integrar a sociedade, pois eles ganham competências necessárias para reconhecerem sinais de alerta, tomarem remédios e decidir sobre os tratamentos mais adequados.

Todas as pessoas, em algum momento da vida, tornam-se pacientes. Por isso, empoderar é uma intervenção educativa que aumenta a capacidade de escolher criticamente e agir autonomamente. O resultado do processo ocorre quando se alcança um maior sentido de eficácia.

A tecnologia a favor do paciente

Por muito tempo, os cuidados em saúde foram submetidos a restrições paternalistas no envolvimento do paciente. Isso acontece por conta das assimetrias da informação, pois o médico sabe muito mais que o paciente.

Entretanto, a tecnologia aparece como uma forma de capacitar esse indivíduo. Sendo assim, hoje as pessoas têm acesso, por smartphones, aos seus registros médicos e exames laboratoriais, além de conseguir realizar consultas virtuais.

LEIA MAIS: Wearables: quando a tecnologia e saúde andam juntas

A tecnologia representa uma evolução na saúde em relação ao empoderamento do paciente, pois este será impactado através de inúmeras informações (smartphones, wearables, aplicativos de saúde, etc.), o que representa uma revolução social na prevenção de doenças.

Além disso, a introdução desse componente permite que o adoecido tenha mais condições de entender sobre sua saúde/doença, ser melhor ouvido pela equipe clínica e, consequentemente, ficar mais informado.

Portanto, empoderar o paciente é contribuir efetivamente para que essas pessoas adquiram maior controle e poder sobre seus processos de tratamento. Sendo assim, será possível aumentar a qualidade física e psíquica de cada um de nós.

Artigo anteriorComo lidar com a ansiedade
Próximo artigoOs maiores conflitos do adulto jovem
Psicóloga formada em 1982, me especializei em Psicoterapia Breve e Psicologia Hospitalar, tendo feito mestrado em Psicologia da Saúde. Toda minha vida profissional foi fundamentada numa postura ética humana, tendo trabalhado como psicoterapeuta (analítica dinâmica) em meu consultório, psicologia oncológica e psicologia hospitalar (UTI de adultos - politrauma, cardiologia e neurologia), sala de Emergência (atendendo tentativas de suicídio por intoxicação e dependência química) e também atuado como professora de Psicologia Educacional, em escolas estaduais no início de carreira, nas Faculdades Oswaldo Cruz (curso de especialização em Oncologia) e na UNICID (matéria de toxicologia clínica na Faculdade de Medicina e Psicologia Forense na Faculdade de Direito). No hospital fui Chefe da clínica de Psicologia Hospitalar (por três anos) e na clínica de oncologia coordenei a equipe multiprofissional. Atualmente atendo clinicamente, e desenvolvo um trabalho de mentoria.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.