Última atualização em 21 de agosto de 2023
O comportamento suicida é uma realidade complexa e dolorosa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Trata-se de um tema delicado e de extrema importância, exigindo compreensão, empatia e esforços conjuntos para sua prevenção.
Muitos fatores podem contribuir para o surgimento desses sentimentos extremos, desde desafios emocionais e psicológicos até pressões sociais e problemas de saúde mental.
Suicídio e morte
A morte é a única certeza do fim da existência humana e, mesmo assim, ainda é pouco discutida. O tabu impede a assimilação do luto e preferimos evitar o assunto como uma maneira de fugir da dor e da tristeza. Entretanto, tal atitude atrapalha a forma como lidamos com as perdas.
No entanto, falar sobre morte é falar sobre a vida. Trata-se de compreender a finitude da existência e exaltar o tempo presente. Contudo, não existe problema em debater sobre o tema, aliás, somente aumenta a percepção da realidade e ajuda a evitar o encerramento da vida por vontade própria.
O suicídio, por sua vez, é o tipo de morte que rompe de forma violenta o vínculo do desenvolvimento humano. Ele foge da construção natural do morrer imposta pela sociedade, intensificando, assim, a dificuldade de aceitação e elaboração do luto para quem convivia com a pessoa falecida. Nesses casos, a posvenção é interessante.
O que é uma posvenção?
A posvenção refere-se ao conjunto de ações e apoio oferecidos a indivíduos que foram afetados pela perda de alguém por suicídio. É um compilado de medidas que visam ajudar as pessoas enlutadas a enfrentar a dor, o luto, a culpa e as emoções complexas que podem surgir após a morte de alguém por suicídio.
Quando o suicídio ocorre, seus efeitos reverberam não apenas na vida do indivíduo perdido, mas também nas pessoas ao seu redor. A posvenção, muitas vezes negligenciada, é um processo que pode ser feito em grupos de apoio, terapia individual e recursos online que podem oferecer um espaço seguro para compartilhar emoções.
Comportamento suicida: o início do perigo
O comportamento suicida envolve o ato intencional de infligir dano a si mesmo, com o objetivo final de pôr fim à própria vida. Nesse sentido, é importante destacar que esse comportamento pode manifestar-se tanto em casos de suicídio consumado quanto em tentativas de suicídio.
Todavia, é importante entender que esse comportamento suicida é algo multifatorial. Dessa forma, tudo englobado na existência do indivíduo reflete de alguma forma na atitude e pensamento existente. Sendo assim, é necessário analisar fatores ambientais, psicológicos, culturais, biológicos, religiosos e políticos quando falamos de suicídio.
Entretanto, um ponto essencial para destacar é que o comportamento suicida nem sempre dá em morte. Geralmente, a pessoa vê nos impulsos um caminho mais rápido para alcançar o seu desejo, que, muitas vezes, é o fim do sofrimento, assim, podendo ocasionar de fato a morte.
Por que mortes por suicídio não são divulgadas?
O suicídio é frequentemente considerado um assunto delicado e complexo, e a decisão de notificá-lo ou não envolve uma série de fatores que variam de país para país e de contexto para contexto.
No entanto, há preocupações legítimas de que a cobertura sensacionalista e detalhada de suicídios possa levar a um fenômeno conhecido como “efeito de contágio” ou “suicídio por imitação”.
Isso ocorre quando a divulgação de suicídios pode levar a um aumento nos comportamentos suicidas em outras pessoas vulneráveis, que podem ser influenciadas pela exposição a essas histórias.
A dor de perder alguém por suicídio
O suicídio não afeta somente o indivíduo que tira a própria vida, mas todas as pessoas que estão à sua volta, especialmente a família. Dessa forma, para os mais próximos da pessoa que cometeu o ato, a vida fica radicalmente transformada.
Sendo assim, a partir do momento que isso faz parte da história de alguém, essa pessoa tem sua vida irremediavelmente marcada. Os principais sentimentos dos familiares do suicida são o medo, a culpa, a raiva, a tristeza, a ansiedade, a vergonha e a saudade.
As pessoas mais próximas do suicida pode também passar pelo transtorno pós-traumático, pois vivenciam o luto da perda e o trauma provocado pelo ato. A morte de um ente querido por suicídio, geralmente, traz conflitos, muitas vezes encobertos, pois a estigmatização acrescenta um processo de estresse ao luto.
Fatores de risco e sinais do suicídio
Clinicamente, é necessário compreender o sofrimento para entender como determinada pessoa chega ao ato suicida. No entanto, temos que prestar muita atenção para que o suicídio não se efetive, uma vez que o comportamento suicida pode ser evitado.
Dessa forma, a pessoa que pretende cometer o suicídio apresenta uma classe de fenômenos antes do ato. Então, é fundamental prestar atenção nos sinais que essas pessoas apresentam para conseguir prevenir o desfecho da história.
Sendo assim, vale ressaltar os sinais e fatores de risco presentes na vida de uma pessoa que influencia na tomada de decisão rumo ao suicídio. Confira a seguir os sintomas do comportamento suicida:
- Histórico de tentativas anteriores;
- Depressão;
- Transtornos de personalidade;
- Doenças mentais;
- Isolamento social;
- Frustração da vida moderna;
- Relacionamentos afetivos abusivos ou fracassados;
- Histórias de tentativa ou suicídio na família;
- Dependência química e medicamentos psicoativos;
- Doenças físicas crônicas em estágio avançado.
Identificar esses sinais pode ser o fator determinante para conseguir ajudar e prevenir o comportamento suicida na pessoa. Entretanto, também é imprescindível tomar cuidado com outros aspectos subjacentes da questão, principalmente, se houver qualquer suspeita.
Nesse sentido, quando nos deparamos com uma tentativa de suicídio é muito importante sabermos o método utilizado pela pessoa e ter rápido acesso aos serviços de emergência. Afinal, todas essas questões somadas com a vulnerabilidade da vítima, interferem no resultado final, independente da intenção ou não de morrer.
Um problema de saúde pública
A cada 40 segundos ocorre uma morte por suicídio. A cada caso de suicídio, estima-se que há 20 tentativas de suicídio. As informações da Organização Mundial da Saúde (OMS) assustam e refletem o grave problema de saúde pública mundial.
Todavia, no Brasil, o país registra uma morte a cada 45 minutos, além de ocupar o décimo primeiro lugar no ranking dos países que apresentam mais casos de comportamento suicida.
Dessa forma, é possível observar diversas lacunas no sistema. Não existem grupos de apoio suficientes, falta capacitação para atender tais casos, existe uma ausência de programas socioeducativos em escolas e universidades, além de possuir pouco investimento na produção de pesquisas sobre a temática.
Tal negligência aumenta o número de casos e reflete o descaso da realidade. Nesse sentido, é fundamental instituir políticas públicas de saúde, contemplando a prevenção e o tratamento do comportamento suicida.
Como prevenir o comportamento suicida
Bem, não existe uma estratégia única de prevenção do comportamento suicida. Dessa forma, é mais interessante apostar em intervenções multidisciplinares para combater esse problema. Sendo assim, algumas formas de prevenção necessárias e que devem ser observadas quando ocorrer o comportamento suicida são:
1. Estabelecendo um diagnóstico efetivo
Identificar e tratar as causas subjacentes do comportamento suicida é essencial para a prevenção. Nesse sentido, é crucial diagnosticar e tratar transtornos psiquiátricos e patologias associadas.
Além disso, é necessário dar uma atenção especial ao transtorno da depressão, especialmente em grupos vulneráveis como idosos e dependentes químicos.
2. Aderir uma abordagem Individualizada
Adotar uma abordagem sistêmica e multidisciplinar é uma etapa fundamental. Estabelecer um vínculo solidário com o paciente não só aumenta a continuidade do tratamento, mas também facilita a implementação de intervenções psicossociais.
Essas abordagens holísticas são, por outro lado, essenciais para tratar as complexidades subjacentes ao comportamento suicida.
3. Redução de métodos letais
Uma estratégia altamente eficaz é a redução dos métodos letais. Isso visa diminuir as tentativas impulsivas e a gravidade das lesões associadas ao comportamento suicida. Isso inclui a implementação de medidas para controlar o acesso a armas de fogo, facas, medicamentos e substâncias tóxicas.
4. Conhecer os serviços de emergência
Estar ciente dos serviços de emergência disponíveis para casos de tentativa de suicídio é uma etapa vital na prevenção. Profissionais de saúde e indivíduos próximos ao paciente devem conhecer os procedimentos adequados para lidar com essas situações urgentes.
Logo, ter acesso rápido a ajuda especializada pode fazer a diferença na intervenção eficaz e no suporte imediato.
A terapia para casos suicidas
A terapia desempenha um papel crucial na abordagem dos casos suicidas, oferecendo um suporte vital para indivíduos que enfrentam sentimentos de desespero e ideações suicidas.
Ao empregar abordagens terapêuticas adequadas e sensíveis, os profissionais de saúde mental podem ajudar os pacientes a enfrentar seus desafios emocionais e encontrar estratégias para uma vida mais saudável e significativa.