Quantas vezes, diante da expectativa de um ganho extra, vemos de forma atropelada os interesses que nos cercam? Quantas vezes em nome do lucro percebemos práticas injustas ou negócios desonestos? E quantas vezes ficamos com o que não é nosso, pois o vemos como um objeto encontrado ou troco errado?
Trata-se da vontade exagerada de possuir qualquer coisa. A busca de bens e poder, às vezes, obscurece a mente, transformando nossos sentimentos, emoções e comportamentos. Estamos falando do sentimento humano que se caracteriza pela vontade de possuir tudo que se admira e para si próprio: a ganância.
Inclusive, as desilusões provocadas pela ganância são marcantes ao longo da história. É possível encontrar incontáveis narrativas sobre governos, conglomerados e até pessoas que ruíram por querer mais, pois não conseguiam pensar na construção de uma sociedade mais justa.
O que é ganância?
O escritor japonês e líder espiritual, Ryuno Okama, explica o que significa ser ganancioso: “é a mente que procura pegar sempre, as coisas para si; é a cobiça de ter mais e sempre mais. Dentro de um coração ganancioso, há o desejo forte de se obter o status social, o reconhecimento profissional e a fama”.
A ganância não tem a ver com o acúmulo de riquezas, afinal, todos precisam competir e buscar situações melhores em seu desenvolvimento. Essa é a justa ambição das pessoas que trabalham, sonham e buscam um mundo melhor.
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Entretanto, os gananciosos vivem eternamente insatisfeitos com o que tem. Eles querem sempre mais e mais e passam por cima de tudo e de todos. A ganância, em grande parte, exclui os sentimentos humanos, como a verdade, o respeito e a parceria com o próximo.
A ganância faz a pessoa individualista, trabalhar sozinha e ficar mesquinho. Lógico que ter desejos é bom para o crescimento das pessoas. Porém, quando este desejo aumenta de forma incontrolável, ele pode avançar sobre o que é dos outros. Dessa forma, pode fazer com que não exista a percepção de mais ninguém além de si próprio.
O lado positivo da ganância
Todos nós queremos experimentar sensações, consumir, possuir coisas, úteis ou fúteis e acumular para o presente ou para o futuro. É da natureza do comportamento humano. Dessa forma, é possível perceber que essa vontade de obter o que queremos para satisfazer nossas vontades possui um lado positivo.
A ganância, em uma sociedade capitalista, nos leva a empreender, criar, produzir, inovar e construir para obter o que desejamos. Sendo assim, procuramos construir novos caminhos por aquilo que não possuímos ainda ou por aquilo que não temos em quantidade suficiente para gerar satisfação.
Portanto, o mais ganancioso dos gananciosos é aquele que paga mais para obter o que mais deseja. É aquele que mais cede o que possui para adquirir o que ainda não tem. Assim, quanto mais ganancioso alguém for, maior será o valor que terá que entregar. O ganancioso será sempre o mais “magnífico” em uma troca livre e voluntária.
Desenvolvimento da ganância
A ganância está presente desde os primeiros anos de vida. Desse modo, podemos perceber alguns comportamentos da infância que transparecem tal sentimento. Quantas vezes já não vimos uma criança não querer outra criança usando o seu brinquedo? Trata-se de uma conduta básica para proteger o que é seu, além de ser uma manifestação do desenvolvimento infantil.
Entretanto, tal comportamento pode ser cultivado ao longo dos anos e gerar atitudes cada vez mais gananciosas. Nesse sentido, uma educação sem restrições recebida dos pais e da sociedade pode afetar o desenvolvimento da personalidade de uma criança.
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O problema ocorre quando os desejos sem limites são atendidos, pois estamos alimentando um desejo insaciável, que no futuro pode ser transformado em um sentimento de ganância. A aprovação repetida desse comportamento acaba agravando a noção de que está tudo bem continuar atuando de tal maneira.
Por exemplo: percebemos que algumas crianças, em loja de brinquedos, sempre querem sempre mais um. Entretanto, em diversas ocasiões, querem esse item adicional apenas para não ficar de mãos vazias. Atender esses desejos pode incentivar um comportamento indesejado.
A conexão com o “eu”
Okawa coloca que a mente possui três venenos: ganância, raiva e ignorância. Esses três componentes inflamam a alma humana e prejudicam os relacionamentos pessoais, podendo ser a causa de sofrimentos, doenças e pobrezas. Eles geram o egoísmo e fazem com que a pessoa pense só em si e esqueça dos outros.
Além disso, grande parte dos comportamentos e sentimentos humanos advém da dificuldade e da falta de oportunidade de as pessoas conhecerem a si mesmas, ou seja, da dificuldade em compreender como funciona as próprias emoções.
O mundo competitivo em que vivemos nos distancia uns dos outros, mas cria a oportunidade de nos aproximarmos do nosso “eu”. Dessa forma, sentir nossas emoções e comportamentos é essencial.
Sendo assim, precisamos ter um encontro marcado com nosso interior, além de pensar e refletir sobre o que vivemos e o que teremos por enfrentar. Então, é importante tirar a máscara social que nos leva a defesas irreais e mostrar a imagem que poderemos nos transformar. Porém, não vou negar: isso pode ser um grande desafio.