Imagine ir para o trabalho e ser constantemente ameaçado e assediado pelo seu chefe? Ou dedicar 10 anos da sua vida e, na hora da esperada promoção, não ser reconhecido? Lidar com chefes que humilham, abusam, desprezam e que estão longe de ser uma fonte de inspiração foi tema do filme “Quero matar o meu chefe”, comédia que escracha a temática de conviver com superiores nada bonzinhos. No longa, três amigos desabafam sobre suas vidas e percebem que o único impedimento para a felicidade são os seus chefes. É claro que o filme foi escrito para tirar boas risadas do público que já se viu alguma vez em uma situação humilhante no ambiente de trabalho, mas fora das telonas, o problema chamado “assédio moral” cresce cada dia mais.
Desde que o mundo é mundo as relações interpessoais são o cerne da maioria dos problemas e eles tendem a piorar quando o status de poder entra em jogo. O filósofo renascentista Maquiavel é dono da célebre frase: “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é”. Seja com as tribos e seus chefes, a realeza e os plebeus ou presidentes e cidadãos, as relações de poder sempre ditaram como o mundo gira, mas não precisamos pensar grande, não, pois as relações de poder também acontecem nos lares e no trabalho de todo mundo. É natural que a estrutura social a qual seguimos necessite de alguém para organizar as relações, o problema é quando há o abuso de poder.
O que é assédio moral?
Bullying empresarial, assédio moral ou mobbing são termos utilizados para descrever um tipo de violência compreendido como “toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”, descreve Marie-France Hirigoyen, psiquiatra francesa especialista em mobbing.
Essa violência decorrente do abuso de poder entre adultos no ambiente profissional ainda existe em larga escala, ainda que a escravidão ou o mau trato a trabalhadores no início da industrialização tenham sido os capítulos mais perversos da nossa história. Embora o trabalho escravo e os maus tratos referentes a péssimas condições estruturais e de tratamento ainda existam atualmente — sim, ainda existe escravidão — abordaremos a violência psicológica sofrida pelos funcionários pelos seus chefes.
“O assédio moral engloba a desqualificação, o isolamento, a atribuição de tarefas de menor valor, a indução ao erro, o assédio sexual, a exclusão, as mudanças de horários e de atividades sem prévio aviso, abusos de poder etc. Para Hirigoyen, o psicoterror gera hostilidade e maldade, ocasionando o aniquilamento psíquico que pode levar ao suicídio. Muito mais que uma relação conflituosa, o assédio moral no trabalho (AMT) está relacionado a abusos hierárquicos, à dominação e à intencionalidade”, explica a Revista Brasileira de Saúde Ocupacional.
Sinais de assédio moral
Muitos profissionais sofrem pressão psicológica para pedir demissão, metas inatingíveis e humilhações. Quando esse tipo de comportamento é constante, é preciso tomar cuidado pois pode ser sinal de assédio psicológico no ambiente de trabalho. Confira mais sinais com a lista publicada pela médica e autora do livro “Bullying – Mentes Perigosas nas escolas”, Ana Beatriz Barbosa Silva.
- Comentários depreciativos quanto à sexualidade, à raça, ao credo, ao modo de ser, andar ou falar de determinado funcionário;
- Humilhações e críticas persistentes;
- Agressões verbais;
- Olhares e risadinhas provocativas;
- Ameaças constantes de demissão ou desvio de função para cargos inferiores;
- Sobrecarga de tarefas com metas desgastantes e excessivas e com prazos muito curtos para serem realizadas;
- Pouca ou quase nenhuma comunicação verbal, como se o trabalhador não existisse;
- Falta de valorização e reconhecimento do desempenho do funcionário;
- Isolamento ou exclusão de um determinado funcionário, a ponto de dirigir-se a ele por meio de outras pessoas ou como forma de forçá-lo a pedir demissão;
- Fofocas maldosas, denegrindo a imagem do trabalhador.
O assédio moral no trabalho é mais comum do que imaginamos. Uma pesquisa realizada pelo VAGAS.com ouviu quase cinco mil pessoas em todo o país e constatou que 52% delas já sofreram algum tipo de assédio. Porém, o que mais chamou atenção é que 87,5% desses entrevistados não fizeram nenhuma reclamação trabalhista. “A maior parte – 39,4% d- disse que não fez a denúncia por medo de perder o emprego. Outros fatores apontados como inibidores foram receio de represálias, citado por 31,6% dos entrevistados, vergonha (11%), medo que a culpa recaia sobre o denunciante (8,2%) e sentimento de culpa (3,9%). Já entre os que tiveram coragem de relatar o fato, acredite ou não, 74,6% afirmaram que o agressor permaneceu na empresa mesmo após a denúncia”, divulgou o site.
Assédio moral é crime? Felizmente, as soluções finalmente estão chegando. Em 2019, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto que criminaliza o assédio moral. “Ofender reiteradamente a dignidade de alguém, causando-lhe dano ou sofrimento físico ou mental, no exercício de emprego, cargo ou função”, informa o texto publicado pelo Senado. O projeto prevê que a pena para o crime seja detenção de um a dois anos.
Apoio psicológico
Muitos profissionais sofrem pressão psicológica para pedir demissão, humilhações e tendem e desenvolver transtornos psicológicos como depressão, ansiedade e burnout. É importante que, caso a situação apresentada nesse artigo lhe seja familiar, procure um psicólogo imediatamente para que as devidas orientações psicológicas sejam realizadas. Em casos de assédio moral, é importante estar atualizado com as normas e leis trabalhistas, além de consultar-se com um advogado.
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