Quem é do tempo dos “correios elegantes” sabe que essa brincadeira típica das Festas Juninas era a chance de se declarar para a pessoa que gostava sem ter de encará-la, ou simplesmente elogiar amigos queridos. O anonimato através dos bilhetinhos protegia os remetentes de qualquer embaraço e vergonha, afinal, eles poderiam dizer o que queriam sem colocar a cara a tapa.

Com a evolução tecnológica e o advento das redes sociais, o correio elegante tornou-se ultrapassado, já que através da internet é possível manter a premissa de dizer tudo o que deseja com a opção de não se identificar.  A alegria da Festa Junina fazia com que os bilhetinhos dos correios elegantes fossem de cunho carinhoso, mas isso não se replica à internet.

Qualquer que seja a tecnologia criada pelo homem corre-se o risco de o feitiço virar contra o feiticeiro. No início da humanidade, o homem passou a afiar alguns pedaços de madeira para criar lanças e facas com as quais pudesse caçar o seu alimento, porém, com o passar do tempo e da evolução, as armas fazem dos homens suas vítimas. Assim o é com a internet. Inicialmente criada para auxiliar o homem em tarefas complexas, hoje ela é um ambiente tanto nocivo quanto maravilhoso. Pronta para conectar, aproximar e facilitar a nossa vida, ela também machuca, destrói e corrompe, e foi nessa faceta que os “cyberbullies” nasceram.

O que é cyberbullying?

O cyberbullying, ou “bullying virtual” como também é conhecido, é um tipo de violência  que aparece em forma de humilhação, agressão, desrespeito, terror psicológico, assédio e medo constantes manifestadas através dos mais diversos meios tecnológicos dispostos pela internet. O bullying cara a cara já é um problema grave que acontece há anos em escolas, grupos de amigos e até em relações profissionais. A grande questão do cyberbullying é que a violência não termina quando a vítima deixa o local físico onde é destratada, ela é estendida até a sua casa e propagada para milhões de pessoas que podem ver publicamente a violência ocorrer.

Os agressores geralmente escolhem suas vítimas por diversos motivos com o intuito de usá-las com objeto de diversão e soberania. O termo oriundo da língua inglesa está na raiz “bully”, cuja tradução é “valentão” ou “brigão”. Portanto, “bullying”, é o comportamento realizado por um ou mais agressores, ou seja, o “bully”, com o objetivo de realizar atitudes violentas de cunho físico ou psicológico com suas vítimas.

“A grande diferença está na forma e nos meios utilizados pelos praticantes de cyberbullying. No bullying tradicional, visto até aqui, as formas de maus-tratos eram diversas: no entanto, todas ocorriam no mundo real. Dessa forma, quase sempre era possível às vítimas conhecer e, especialmente, reconhecer seus agressores. No caso do cyberbullying, a natureza vil de seus idealizadores e/ou executores ganha uma “blindagem” poderosa pela garantia do anonimato que eles adquirem. Sem nenhum tipo de constrangimento, os bullies cibernéticos (ou virtuais) se valem de apelidos ou perfis falsos com o nome de outras pessoas conhecidas ou de personagens famosos de filmes, novelas, seriados”, explica Ana Beatriz Barbosa Silva, médica e autora do livro “Bullying – Mentes perigosas nas escolas”.

Imagine ter o seu instagram repleto de mensagens de ódio, as suas fotos compartilhadas sem contexto, com alterações de photoshop ou de momentos íntimos ou ser perseguido em qualquer rede que utilizar? Essas humilhações públicas podem ser vistas por milhares de pessoas e os efeitos que elas causam podem ser mortais. Os casos de suicídio após ter fotos íntimas vazadas ou de ataques e perseguições nas redes aumenta a cada dia. Segundo dados de uma pesquisa realizada pela Ipsos, o Brasil é o segundo país com a maior incidência de casos de cyberbullying no mundo. Foram entrevistadas 20.793 pessoas em 28 países.

Dentre as maiores consequências do bullying estão os distúrbios mentais. Transtorno do pânico, fobia social, transtorno de ansiedade generalizada, depressão e transtorno de estresse pós-traumático são os principais problemas. Pessoas que sofrem bullying e não realizam tratamento psicológico adequado correm o risco do quadro evoluir e levar a vítima à morte por meio do suicídio ou homicídio.

Mas como combater alguém que se esconde no anonimato? Essa é uma das questões mais discutidas entre pais, professores, especialistas e pelo governo no que se refere a criação de campanhas, programas e leis que consigam frear essa ameaça fantasma nas redes. A conscientização é um das maneiras de educar e compartilhar conhecimento, assim, a identificação do bullying virtual fica mais fácil, embora o problema do anonimato e perfis fakes ainda sejam um problema.

Tecnologias e leis vêm evoluindo para que a identificação rápida e assertiva aconteça e os bullies sejam pegos, mas a maior arma contra o cyberbullying ainda é a conscientização e o acompanhamento psicológico, afinal, seja em casa, na escola ou nas redes, o bullying é uma triste realidade que deve ser combatida.

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