Envelhecimento saudável com positividade é essencial para ter saúde e bem-estar.
Seja nos filmes de ficção ou nos contos de fada, a promessa da juventude eterna sempre nos seduziu, isso por que o medo de envelhecer — e, consequentemente do desconhecido — sempre tomou conta do ser humano. Se analisarmos os contos de fadas, as bruxas e vilãs sempre são aquelas que desejam ter a aparência jovem da princesa ou que, através de magia, conseguem se manter lindas e moças para sempre.
Mas por que o processo de envelhecimento não é internalizado como natural? Por que fugimos tanto da velhice? Seja com os anúncios de creme anti-idade ou com as cirurgias plásticas, não aceitamos o fato de que o corpo e a mente amadurecem, assim como qualquer processo da natureza.
A situação do idoso no Brasil ainda se apoia na ideia de que são pessoas incapazes, doentes e frágeis, sendo um dos fatores para o grande número de abandono na terceira idade. A gerontóloga do Prevent Senior, Paula Mello Gomes, aponta que “o Brasil peca muito em todos os quesitos como acesso à educação, saúde, divisão de renda, assim, os idosos são mais uma parcela da população que sofrem com a falta de um sistema acolhedor e dê condições para um vida digna. Assim, por não ser muito valorizado socialmente, principalmente pelo ponto econômico, eles acabam sendo muito negligenciados pela sociedade”.
O envelhecimento da população brasileira é um fato. Segundo o médico geriatra Alexandre Kalache, em entrevista para O Globo, “o grupo populacional que mais cresce e continuará crescendo no país é o de idosos. Dentro desse grupo, o que mais rapidamente vai crescer é o das pessoas com mais de 80. A demografia tem impacto na sociedade como um todo, não só na economia, mas na forma de viver, nos sistemas públicos de saúde… Seremos, daqui a pouco, um país idoso. E a velocidade desse envelhecimento é um desafio”.
Porém, com o pensamento errado de que ser velho é igual a ser doente e incapaz, é quase que esperado que o medo de chegar a esse estágio da vida aconteça. Assim, muitos adultos entram em parafuso quando passam dos 50, pois a temida velhice se aproxima. Pintar a terceira idade dessa maneira é extremamente prejudicial para o envelhecimento saudável, seja fisicamente ou psicologicamente. É vital que esse conceito de velhice seja transformado para que menos pessoas sofram de transtornos psicológicos e frustrações, ainda que vivam mais. De que adianta a medicina evoluir, nos dar longevidade, se não conseguimos aproveitar psicologicamente e emocionalmente essa fase da vida?
A depressão no idoso, assim como a solidão e outros problemas psicológicos são muito comuns. A gerontóloga Paula Mello Gomes explica: “Pensando em depressão, sim, essa tem aumentado muito a prevalência entre essa faixa etária. Os principais aspectos se dão devido às mudanças sociais, como aposentadoria, perda de entes e amigos e até a própria adaptação às novas condições físicas e muito relacionada com as perdas cognitivas (memória e atenção), assim, dependendo da resiliência, se não conseguir uma resposta rápida e positiva há esse acometimento”.
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Ela também aponta que um outro fator que contribui para os transtornos é a nossa própria organização social, em que a interação entre as pessoas de idades diferentes são menores, muito mais online que presencial, assim, essa doença tem impactado muito a velhice. “Quadros depressivos pouco tratados ou ignorados ao longo da vida têm maior prevalência e impacto nesses casos – gira em torno de 50% de prevalência contra 12-15% em aqueles que desenvolvem o quadro depressivo na velhice, segundo os últimos dados do estudo SABE de 2005. No entanto, essa não é a principal causa de adoecimento entre idosos, mas merece atenção pela conjuntura física e cognitiva do idoso e principalmente por se pensar em tratamentos mais efetivos em épocas anteriores”, aponta.
Envelhecimento psicológico saudável
Envelhecer com saúde: esse é o sonho de todo mundo, não é mesmo? O idoso ativo, ou seja, aquele que pratica exercícios físicos, se alimenta bem e realiza todos os cuidados periódicos de saúde, está crescendo. Mas não é só da saúde física que esse idoso precisa cuidar, afinal, saber envelhecer psicologicamente é mais que uma questão de sobrevivência, e sim, uma questão de viver bem.
Em pesquisa divulgada na American Psychological Association, os estudiosos afirmam que “Com a idade, as pessoas colocam mais valor em objetivos emocionalmente significativos, consequentemente, investem mais nas fontes cognitivas e comportamentais em consegui-los”. Ou seja, a tendência de que a maturidade e a experiência sejam aliadas do processo de envelhecimento psicológico saudável é plausível. Os pesquisadores também apontam a positividade como chave para esse envelhecimento saudável, já que, em teoria, com menos tempo de vida, os indivíduos da terceira idade voltam suas atenções à essas emoções positivas.
É claro que o histórico e contexto em que esse idoso viveu conta muito! O que a pesquisa sugere é que os velhinhos, por terem passado por mais situações, sabem melhor com o que se preocupar e com o que não. Sabem quais emoções são boas, e quais não são. A questão essencial aqui é fazer com que eles a despertem e utilizem essa tendência, ao invés de cair em depressão e outros problemas.
Com a perspectiva de levar a psicologia como um meio de desenvolver bem-estar e felicidade, o psicólogo Mark Seligman, juntamente com outros colegas, decidiram criar a psicologia positiva. Segundo ele, essa linha da psicologia possui alguns objetivos fundamentais:
- Se preocupar com os pontos fortes do ser humano tanto quanto com suas fraquezas;
- Se interessar pelas melhores coisas da vida;
- Se dedicar à fazer a vida de pessoas comuns mais gratificante;
- Desenvolver genialidade;
- Promover talentos;
- Humanizar a psicologia;
A felicidade e o bem-estar podem ser encontrados na terceira idade. Grupos de idosos, centros de convivência para idosos e outras atividades sociais são extremamente importante para desenvolver a inteligência emocional e colocar em prática a psicologia positiva. O auxílio de psicólogos e profissionais da saúde é essencial, mas é imprescindível que a pessoa também continue o processo nos seus tempos de lazer e em casa, com reuniões de amigos, hobbies, festas, danças de salão, esportes ou qualquer atividade que o idoso tenha interesse.
Seligman acredita que há 3 diferentes vidas felizes possíveis. A primeira é aquela em que aproveitamos e vivemos todos os prazeres que pudermos, de modo que as emoções positivas sejam despertadas. A segunda, é encontrar fluidez na vida, de modo que a família, o trabalho e os acontecimentos diários não se tornem pesados, e sim, internalizados de modo que o indivíduo se conecte consigo mesmo e com o meio em que vive. E, por fim, a terceira vida é a da busca por sentido e significado.
Assim, seguir a psicologia positiva atrelada aos cuidados da saúde física é essencial para envelhecer bem e, assim, viver não a velhice, mas sim, a melhor ida