A escrita terapêutica é uma técnica amplamente difundida, recomendada e aplicada por muitos profissionais da saúde atualmente. No entanto, é importante destacar que essa prática não é indicada para todas as pessoas, devendo ser realizada de maneira consciente e com objetivos claros e predefinidos. A implementação da escrita terapêutica requer cuidado e propósitos bem estabelecidos para garantir benefícios efetivos.
Nesse texto explicaremos em detalhes o que é a escrita terapêutica, como escrever de modo eficaz e quais são seus benefícios considerando aqui, a saúde mental.
O que é a escrita terapêutica?
A escrita terapêutica é uma técnica criada por James W. Pennebaker por volta de 1980, com o objetivo de proporcionar alívio e autoconhecimento a quem a pratica. No entanto, consiste basicamente em escrever para você e sobre você.
Contudo, em um experimento realizado, Pennebaker convidou algumas pessoas e as dividiu em dois grupos. Ao “grupo A” sugeriu que escrevessem todos os dias por 15 minutos, sem interrupções e pausa e registrassem suas emoções, sentimentos e pensamentos.
Já ao “grupo B” foi sugerido que escrevessem também todos os dias por 15 minutos, sem interrupções ou pausa e registrassem cenas do passado, traumas de modo racional, focando somente na descrição.
Todavia, o “grupo A” teve inúmeros benefícios e a partir da técnica, passaram a buscar menos atendimentos médicos durante o período de escrita. Além disso, afirmaram que a prática foi importante para acessar e lidar com as emoções sentidas.
Como fazer a escrita terapêutica?
Na vida adulta, é crucial reconhecer o papel essencial da escrita como ferramenta para observar e compreender não apenas nossos pensamentos, emoções e sentimentos – ou seja, o nosso “EU” e seu funcionamento interno – mas também para avaliar e interagir de maneira significativa com o “MUNDO EXTERNO”. Mas como começar a realizar uma escrita terapêutica?
1. Escreva no papel com caneta
Um pouco óbvio? Nem tanto! Muitas pessoas preferem o uso de apps ou seus aparelhos eletrônicos. Não é errado, porém pouco recomendado. Qualquer prática terapêutica precisa de fluidez, apesar de entender que no início isso é desafiador.
No entanto, a recomendação do uso de caderno e caneta é pelo simples fato de forçar, selecionar suas percepções e refinar os conteúdos a serem registrados.
2. Use a Associação Livre.
Assim como no processo de análise/psicoterapia, não existe o conteúdo certo e errado. Logo, durante a escrita, registre o que estiver passando por sua cabeça. Seja um fato do passado, um acontecimento atual, algo que te provoca raiva e desconforto ou tranquilidade. Enfim, não é necessário um padrão.
Lembrando que a AL é uma técnica psicanalítica que objetiva produzir no analisando acesso ao inconsciente, que de forma prática é nossa estrutura mais primitiva, infantil e por vezes surpreendente por carregar algo desconhecido de nossa consciência.
3. Tenha um tempo e espaço para escrever.
Escolha um horário e um local que você não tenha interrupções. Lembre-se que esse espaço deve reproduzir o setting terapêutico no que diz respeito a sigilo e previsibilidade.
Entretanto, como qualquer novo hábito é importante a constância, ou seja, mantenha esse padrão de funcionamento por no mínimo 21 dias. Já sobre o tempo, escreva por no mínimo 15 minutos, isso considerando, que você já esteja num bom ritmo e com o hábito consolidado.
4. Registre suas sessões de Psicoterapia.
Lembre-se a escrita é complementar ao processo terapêutico, dessa forma, você pode aproveitar esse momento para refletir sobre a última sessão, ou realizar alguma tarefa solicitada pelo profissional.
Criar um diário das emoções também pode ser interessante nesse sentido. Assim, é possível acompanhar os conteúdos das últimas sessões, quantificar a sua evolução a cada período de tempo e organizar o que precisa para levar na próxima sessão.
5. Construa ferramentas.
Imagino que nessa altura do campeonato você que já tem essa prática de autoconhecimento tenha sentido a necessidade de testar seus limites e checar suas evoluções.
Neste sentido, utilize ferramentas e recursos gerais, bem como os aprendizados obtidos na terapia. Um recurso simples e interessante para checagem é a linha do tempo, onde você pode observar sua trajetória na terapia ou resgatar seu histórico de vida.
Outra opção é o termômetro do humor, onde você pode classificar seu humor diariamente, semanalmente ou mensalmente, trazendo clareza sobre o que é importante naquele momento.
Os benefícios da realização da prática
Tomando como base a consigna: “Escreva para você e sobre você!”, afirmo com certeza e tranquilidade que o autoconhecimento é o principal benefício. Além disso é possível listar seguintes benefícios em pacientes que utilizam e escrita terapêutica como técnica:
- Proporciona um lugar seguro para você, onde não existe medo de julgamentos;
- Melhora a gestão das emoções;
- Organiza os pensamentos;
- Facilita a comunicação assertiva;
- Diminui sintomas psicossomático;
- Diminui sintomas da ansiedade;
- Diminui sintomas de depressão;
- Reduz alguns tipos de insônia;
- Facilita o acesso a memórias afetivas;
- Contribui na tomada de decisão;
- Auxilia a percepção de necessidade;
- Facilita na avaliação de humor e temperamento;
- Possibilita o autocuidado com o tempo e espaço para si mesmo;
- Neurologicamente ativa regiões responsáveis pela tomada de decisão, área da linguagem, e sistema límbico;
- Facilita o enfrentamento de traumas e cenas íntimas não ditas;
- Estimula a criatividade;
- Auxilia na construção da flexibilidade e tolerância à frustração;
- Melhora a percepção de si, do outro e do mundo.
A escrita terapêutica não substitui a psicoterapia
A escrita terapêutica não substitui a psicoterapia e não é para todos. A nível de técnica ela é complementar a terapia, por isso o psicólogo vai acompanhar essa produção e mediar o que surge, sem perder de vista outros aspectos que são valiosos na Psicoterapia.
Todavia, a psicoterapia é o espaço de fala para tratamento de saúde mental conduzido pelo psicólogo, com sólida formação e competência profissional. No entanto, não existe cura sem o autoconhecimento. Lembre-se que o momento da terapia é sobre VOCÊ.
- Não filtre as questões que podes ou não dizer ao terapeuta;
- Fale o que realmente precisa ser dito;
- Seja honesto com você, use este espaço de cuidado de modo proveitoso;
- O setting terapêutico é o lugar certo para falar/trabalhar o que te atravessa.