A morte é inevitável. Sabemos desde cedo que uma hora ela irá chegar, porém não sabemos lidar com a fatalidade da humanidade. A dor do luto, então, é uma questão que nos toca desde nossa existência.
Quando alguém que amamos falece, perdemos o chão. Não sabemos o que fazer. Assim, iniciamos o nosso processo de luto. Tristeza, raiva, angústia, saudade. Somos acometidos por um turbilhão de emoções.
No entanto, aceitar a morte é uma tarefa difícil. O luto nos envolve em um estado de melancolia grande, nos leva a um caminho de reflexão e desilusão acerca da vida. Dessa forma, se não soubermos lidar com essa vasta gama de sentimentos, podemos cair no limbo da depressão.
Sabendo da dificuldade humana de entender o luto e a morte, a psiquiatra Kubler-Ross criou a teoria dos 5 estágios do luto, que acreditava na padronização dos estágios do luto, mesmo que não linear.
O modelo Kubler-Ross
Após fazer sucesso entre os acadêmicos, o modelo Kubler-Ross se tornou famoso mundialmente. Este, por sua vez, se popularizou por conter a teoria dos cinco estágios de luto, que é originalmente parte do livro “Sobre a morte e morrer” de 1969.
A literatura trata da relação de pacientes terminais com a morte e, por conta disso, muitos profissionais questionam as ideias de Kubler-Ross e sua teoria das cinco fases do luto, já que não trabalharam no livro o conceito de luto em si.
Entretanto, em 2004, a autora atualizou seu modelo e lançou o livro “On Grief and Grieving: Finding the Meaning of Grief Through the Five Stages“. Nele, é possível perceber a manutenção dos estágios do luto, porém referentes, realmente, ao sentimento de tristeza pela morte de outra pessoa.
Como as cinco fases do luto, Kubler-Ross apresenta a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação como etapas. Vale ressaltar, entretanto, que elas não são paradas obrigatórias em alguma linha do tempo da tristeza. Não existe necessariamente uma ordem entre elas e nem todas as pessoas passam por todas as fases.
As cinco fases do luto
Negação
Nada faz sentido. Ficamos entorpecidos e entramos num estado de choque. Não acreditamos que nunca mais veremos aquela pessoa novamente. Não parece real. Por isso, não queremos acreditar. Negamos.
A negação e o choque ajudam a lidar com o luto e tornam a sobrevivência possível. O indivíduo cria uma barreira psíquica para que possa lidar o quanto consegue. Lidar com o luto nesse estágio pode ser complicado, mas aceitar a realidade da perda é o primeiro passo para a cura.
Raiva
Parentes, amigos, médicos e até o próprio falecido. A indignação e a raiva da perda de um ente querido pode ser direcionada para qualquer pessoa. A raiva é, na verdade, a nossa dor interna. Nos sentimos abandonados por aquele que partiu.
Esse sentimento aparece como um contraponto da negação. Saímos do “nulo” da perda para uma emoção – mesmo que agressiva. Neste caso, sentir é fundamental para processar o acontecido. Logo, a raiva dá uma estrutura emocional temporária ao vazio existencial deixado pela morte.
Negociação
A culpa, geralmente, acompanha esta fase. Começamos a pensar o que poderíamos ter feito de diferente para mudar o ocorrido. “Se tivéssemos ido ao médico antes…” ou “se eu tivesse mais cuidado…” são alguns pensamentos que podem surgir. Queremos, nesse contexto, negociar possíveis mudanças e fazer promessas – muitas vezes ligados ao plano religioso.
Nesse caso, fica claro como as fases do luto estão conectadas e que não são necessariamente lineares. A etapa da negociação, muitas vezes, está ligada diretamente com a negação, pois, por não aceitarmos bem essa perda, começamos a imaginar cenários hipotéticos.
Depressão
Nessa etapa, somos assolados pela tristeza. O reconhecimento da perda traz profundas consequências. Ficamos mais reflexivos e solitários. A melancolia toma conta dos dias e nos sentimos desconectados das pessoas.
Vale ressaltar que essa depressão por conta do luto não é a mesma da diagnosticada clinicamente. Sentir-se assim após a morte de um ente querido é normal e é preciso certo tempo para processar melhor os sentimentos.
Aceitação
A etapa da aceitação é muitas vezes confundida com a noção de “estar bem” com o que aconteceu. Entretanto, este estágio trata de aceitar a realidade de que aquele ente querido está fisicamente ausente. Compreender que essa nova realidade é a realidade permanente é difícil, porém essencial nesse processo.
Luto eterno não existe. Claro, podemos ficar tristes quando lembramos de uma pessoa próxima que partiu há muito tempo, isso é normal. Porém, o luto serve para reorganizarmos nossas emoções e lidar com o fato de que ela não voltará – e, tudo bem, isso faz parte da vida!
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Como lidar com a morte?
A morte faz tão parte da vida quanto o próprio viver. No entanto, ainda é um tabu falar sobre ela e, justamente por não falarmos, nos assustamos tanto quando ela acontece. Nossa vida é passageira, e por mais que não saibamos quase nada sobre morrer, sabemos que o destino de todos nós um dia será esse.
Dessa forma, tratar o assunto como uma parte necessária da nossa trajetória é extremamente importante. Morrer é um processo natural e nada que conhecemos dura para sempre. Logo, a transitoriedade das coisas é real, e quanto mais cedo aceitarmos que ela é um fato, melhor é para os nossos mecanismos psíquicos frente aos desafios da morte.
Considerando os aspectos apresentados, aprender a lidar com a morte é um dos exercícios humanos que faz-se imprescindível para uma saúde mental estável. Por mais que seja difícil, é importante. Amamos e nos apegamos ao próximo, mas negligenciamos que somos apenas humanos, sujeitos a toda e qualquer mudança que a vida nos propor.
Sabendo disso, nossa especialista Sônia Pittigliani resolveu falar um pouco mais sobre o assunto. Confira abaixo os aspectos do luto e dicas de como lidar com este período difícil: