Televisões, celulares e tablets são grandes inimigos do sono. Entenda o processo todo aqui!
Na Grécia antiga, o deus do sol era Apolo. Montado em uma carruagem, ele fazia com que a noite desaparecesse e o sol surgisse no horizonte. Com os nórdicos, isso era trabalho de Siegel e, com os egípcios, Rá representava as fases do dia e toda a vida criada pelo sol.
Desde o início da humanidade, o sol ditava o tempo de trabalho, a vida nas sociedades, o funcionamento do corpo e o ciclo do sono. Quando o sol raiava, o corpo despertava sozinho e entendia que era hora de levantar e, quando a noite chegava, ele já entrava em estado de relaxamento para preparar-se para o sono.
Mas os deuses antigos perderam força quando um mais moderno nasceu: a eletricidade. Foi o inventor norte-americano Benjamin Franklin quem trouxe ela para as nossas vidas e foi um tremendo sucesso, já que as cidades ganharam vida à noite, os perigos se tornaram menores, e a invenção de outras modernidades foi possível. Tudo parece maravilhoso se não fosse por um detalhe: o corpo não foi avisado que esse novo deus tomaria conta das nossas vidas.
O ciclo do sono é ditado pelo sol, e com a extensão cada vez maior do dia, com a eletricidade, televisão e celulares, as fases do sono são colocadas em risco. Segundo a Clínica do Sono, são essas as fases do ciclo do sono:
- Fase 1: se caracteriza pelo sono leve e consome cerca de 10% do período da noite; consiste numa transição entre a vigília e o sono. “As ondas cerebrais desaceleram e a atividade muscular do corpo despenca, o que pode gerar espasmos e sensação de queda. O sono leve acontece a partir da liberação da melatonina, o hormônio do sono, cuja liberação acontece quando começa a escurecer e o nosso corpo entende que chegou a noite.”
- Fase 2: aqui é o sono médio, responsável por 45% do período do sono cuja característica mais marcante é o descanso absoluto do movimento dos olhos. “As ondas cerebrais ficam tão lentas quanto as de quem pratica meditação, com algumas altas eventuais. A temperatura do corpo e a pressão sanguínea diminuem.”
- Fase 3: sono profundo toma conta e abrange cerca de 25% da noite. Aqui, o cérebro libera ondas lentas, tornando o despertar mais difícil. “Nesta fase podem acontecer episódios de terror noturno e sonambulismo.”
- Fase R.E.M.: “as ondas cerebrais disparam e chegam a mesma velocidade do estado de vigília. A atividade cerebral está em alta, assim como a respiração e pressão sanguínea. Os olhos se movimentam rapidamente e é nessa faze que acontecem os sonhos.”
A importância das fases 1, 2 e 3 são enormes para a saúde física do corpo, pois nelas ocorrem a restauração dos tecidos, aumento da massa muscular e liberação do hormônio do crescimento.
O maior vilão do sono
Assim que a eletricidade chegou, ela gerou uma porção de filhos, e alguns deles oferecem imenso perigo para a saúde do sono e bem-estar das pessoas, pois uma vez que há luz, seja ela do tipo que for, o corpo compreende que não deve sentir sono.
Lâmpadas, televisões, computadores, celulares, tablets e outros aparatos tecnológicos que já estão inseridos na nossa rotina, são os principais vilões do sono, pois nos mantém alerta o tempo todo. Em entrevista para Folha de São Paulo, a especialista em sono da Unifesp, Camila Hirotsu, afirma: “O celular deve ser a coisa que mais prejudica o sono de uma pessoa”. Não contentes em emitirem luz, os aparelhos telefônicos emitem a luz azul, uma das maiores inibidoras da melatonina, o hormônio do sono.
Além disso, eles são fonte de intensa conexão mental, pois nas conversas de whatsapp ficamos disponíveis para as pessoas o tempo todo. Uma pesquisa realizada pela USP (Universidade de São Paulo) relatou o uso dos celulares à noite: “93% dos alunos voluntários mantêm o celular próximo de si, 76% o utilizam mesmo já na cama e 68% dos participantes acordam caso o celular toque, sem contar que 79% participantes utilizam o celular por pelo menos 15 minutos após se deitar”.
As autoras da pesquisa, Carine Cristina Moraes de Freitas, Agda Lopes Donnabella Marconi Gozzoli, Juliana Naomi Konno e Vera Lucia Ribeiro Fuess, chegaram á seguinte conclusão: “Com a restrição do uso do aparelho celular por uma hora antes de dormir por um período de 15 dias, foi possível notar mudanças estatisticamente significativas no sono dos participantes”. Ou seja, é necessário rever os hábitos tecnológicos para melhorar o sono.
Os problemas para dormir são extremamente prejudiciais para o funcionamento do organismo e para a saúde em geral. Cerca de 45% da população mundial sofre com distúrbios do sonos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), um número que tem feito os especialistas perderem o sono.
Os distúrbios do sono consistem em alterações nos padrões ou nos hábitos de dormir. Essas dificuldades relacionadas ao sono incluem a insônia, ronco e apneia do sono, sonambulismo, bruxismo, síndrome das pernas inquietas e narcolepsia, segundo o Instituto do Sono. Um exame de polissonografia indica a presença deles.
Preocupado com o panorama mundial do sono, o neurocientista britânico Matthew Walker éresponsável por um laboratório de sono na Universidade da Califórnia, Berkeley, nos Estados Unidos, e procura combater o estigma “preguiçoso” de quem faz as oitos ou mais horas de sono. Ele argumenta que a preocupação mora no inverso, pois a falta de sono “é responsável por doenças, acidentes, problemas mentais e fadiga que afetam todos nós”, contou à BBC.
O que tira o sono? E o o que é bom para sono?O neurocientista compartilhou cinco dicas com a BBC para uma noite bem dormida. Confira todas elas aqui!
Quanto à luminosidade, ele é categórico: “Não é necessário que todas as luzes da casa estejam acesas”, aponta o neurocientista. A era moderna é fiel às lâmpadas, eletrônicos e aparatos em geral que “iluminam a noite”, segundo Walker. Porém, a luz faz com que o sono profundo seja prejudicado e uma saída para o problema são as “cortinas blecautes”, por exemplo.
Ele recomenda que, no quarto, os dispositivos eletrônicos com luzes no modo de espera, assim como smartphones ou tablets, sejam desligados. Ao chegar perto da hora de ir para a cama, a sugestão é começar a diminuir a luz, assim o cérebro e o corpo entendem que o tempo do descanso se aproxima.