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A importância dos laços familiares na construção psicológica

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O nome Clarice Lispector é comumente evocado quando se fala de literatura brasileira ou sobre família. A escritora ucraniana naturalizada brasileira, escreveu e compreendeu a profundidade das relações familiares desde as ações e emoções mais sutis, até as mais tempestuosas. Um simples gesto é entendido com tal complexidade psicológica que o livro “Laços De Família” se tornou um dos mais aclamados de nossa literatura.

“A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo”.

Toda relação humana é complexa. Quando a convivência é diária, essa complexidade tende a ficar maior, seja para o lado positivo, quanto para o negativo. Independentemente dos problemas que os laços possam causar, a importância da família na sociedade ainda é expressiva, essencialmente na infância, onde a família se torna a base de tudo. “Boas experiências afetivas iniciais têm influência positiva no desenrolar da vida do indivíduo”, aponta o Núcleo Ciência Pela Infância.

É através das primeiras experiências sociais e de construção de vínculos que a criança desenvolve seus valores e personalidade, além de serem a base onde o seu psicológico e emocional serão fundadas. Crianças que não receberam amparo, carinho, exemplos positivos e valores, podem desenvolver traumas que, se não tratados, têm grandes chances de evoluírem para transtornos psicológicos, como depressão, ansiedade, síndrome do pânico ou outros distúrbios graves.

Um caso muito polêmico dá forças a premissa de que, sem uma base de laços fortes e cheia de amparo, as crianças podem sofrer psicologicamente. Na década de 60, a Romênia adotou uma política de aumento populacional, porém, com isso, gerou um déficit econômico grave que impactou as famílias. Essas, sem ter dinheiro para sustentar os cinco, seis, sete filhos que tinham, começaram a abandoná-los em orfanatos. O mais bizarro é que os funcionários dos orfanatos foram instruídos a não darem nenhum tipo de carinho ou demonstrações de afeto para com aquelas crianças.

O resultado? Ao visitar um desses internatos, o pediatra Charles Nelson, do Hospital de Crianças de Boston, nos Estados Unidos, ficou chocado ao se deparar com crianças pedindo por carinho e esperando desesperadamente atenção. Impactado com os resultados que a falta de amor nos primeiros anos de vida causa, ele lançou o  “Projeto de Intervenção Precoce de Bucareste”, onde analisou a questão da carência extrema.  

“Inúmeros estudos têm mostrado que investimentos em programas voltados para a primeira infância podem dar um retorno bastante positivo para as crianças e para a sociedade como um todo. Crianças que tiveram boas oportunidades na infância (escolares, afetivas e sociais) tendem a apresentar um melhor desempenho acadêmico e profissional, um maior ajuste social e uma menor propensão à criminalidade, uso de drogas, adoecimento físico ou mental”, informa o Núcleo Ciência Pela Infância.

Na vida adulta, o conceito de família pode mudar e não necessariamente se fixar somente nas relações sanguíneas. Afinal, o que é família? Será a família feliz que aparece nos comerciais de televisão? Ou será aquela que protagoniza os dramas e desavenças das novelas mexicanas? A estrutura familiar é, hoje em dia, extremamente vasta e diferente do modelo tradicional que tínhamos há alguns anos.

“Assim, pensar em constituir uma família, ou não, está relacionado com o problema do vínculo social na contemporaneidade na medida em que os laços familiares consistem em uma rede social importante para o indivíduo no cenário da contemporaneidade. São as experiências dos indivíduos relacionadas à importância desses laços, inclusive aquelas experiências vividas dentro de suas próprias famílias de origem, que darão sentido aos seus projetos futuros”, observa tese da Puc-Rio.

Segundo o dicionário Michaellis, o significado de família se dá por “pessoas do mesmo sangue ou não, ligadas entre si por casamento, filiação, ou mesmo adoção; parentes, parentela”, ou ainda “um grupo de pessoas unidas por convicções, interesses ou origem comuns”. Ou seja, família pode ser aquele grupo de amigos que te dá apoio e suporte emocional e psicológico todos os dias. É o filho adotivo que encontrou em novos pais, a sua base existencial.

A importância da família na sociedade, seja ela qual for, ainda é vital para a sobrevivência, visto que enfrentamos um processo de individualização como nunca antes. Esse processo é fortalecido pelo avanço tecnológico que, ao mesmo tempo em que torna a comunicação mais fácil entre pessoas, as separa do convívio e da presença física.

A terapia familiar é uma ferramenta importante em casos de conflitos, traumas ou mesmo a  necessidade e interesse de se aproximar, reaproximar e conviver bem com os membros desse grupo social. O valor de uma família unida é inestimável, visto que, como já abordamos no início desse artigo, é a base para que o indivíduo construa a sua inteligência emocional, valores, atitudes e bons exemplos.

A família é o nosso primeiro contato com o mundo, pela qual experienciamos as primeiras trocas de informação e afeto, transformando o indivíduo e o preparando para tudo na vida. Uma vez que essa entidade social não realiza tais funções, e sim, o contrário, os efeitos no indivíduo que sofre abusos, humilhações e grandes traumas, é igualmente grande.

É preciso fortalecer os laços familiares, seja a sua família quem for: parente de sangue, amigo que é quase irmão, mãe que também é pai, pai que também é mãe, vó que cria no lugar dos pais.

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