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O processo de adoção – Pela psicóloga Ana Claudia Vadja

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O processo de adoção no Brasil é demorado e requer um grande preparo psicológico dos pais, pois é como um período de gestação prolongada, onde eles terão que adequar a sua vida às expectativas, anseio e possíveis momentos desconcertantes que surgirão ao decorrer de todo o aguardo.

A psicóloga Ana Claudia Vadja, explicará mais sobre esse momento e todo o impacto psicológico que ele causa nas pessoas envolvidas com a adoção.

Adoção e a fila de espera

Podemos idealizar em nossa mente como aquela criança será. Assim como qualquer gestação, quanto mais desejado e planejado um filho melhor para todos.

Muitos casais esperam na fila por mais de quatro anos porque preferem um bebê. Sendo que quando a criança possui mais de dois anos o tempo de espera é menor, pois este é relativo à escolha de perfil da mesma. Há muitos casos onde o período de aguardo por uma adoção de um recém-nascido chega a ser de 6 a 7 anos.

Mas este não foi o caso do casal Sandra e André – ele com 42 anos, ela com 39 anos – decidiram iniciar o processo de adoção e ao final de um ano já tinham o primeiro filho em casa, um jovem com 8 anos de idade (hoje já com 13 anos). Após a espera de um ano para adaptação, eles decidiram adotar outro filho, que na época estava com 11 anos (hoje possui 15 anos).

Adoção e Habilitação

E todo processo para conseguir a habilitação? Na nossa cidade de São Paulo, os interessados têm que participar do grupo de apoio à adoção, fazer um levantamento da documentação, e obter o atestado de sanidade mental para entrar com o processo.

Posteriormente deverão passar em entrevistas com uma psicóloga e assistente social, receber as visitas domiciliares, aguardar a habilitação, para finalmente entrar no cadastro nacional de adoção (Ufa!).

O sistema é lento e não há profissionais suficientes para agilizar o processo. Os profissionais que deveriam orientar não estão preparados para lidar com os adotantes. É notável a falta de discussão e estudo sobre o tema, onde percebemos que o que reina é o senso comum e o preconceito. Estes fatores causam um desconforto para os casais que querem adotar, passando-lhes a sensação de que eles não são capazes de “maternar”, cuidar e educar.

Adoção e Caridade

Na história do nosso país, por vários séculos os mais abastados adotavam para ajudar os menos favorecidos em troca de trabalho. Atualmente percebemos a influência deste legado na adoção . A chamada adoção à brasileira, onde registrar a criança no cartório, sem passar pelos trâmites legais, representam 90% das adoções no nosso país até os anos 80.

Adoção e Infertilidade

A prática de atendimento às famílias adotivas, mostra que ainda há um constrangimento ao falar de que maneira o filho chegou até a família. Este desconforto vem da crença de que o filho que não é biológico é inferior, e por muito tempo se evita comentar sobre o assunto para evitar o olhar discriminatório da sociedade. Desta forma, partiriam para a adoção aqueles que não são capazes de gerar seus próprios filhos, mas esse conceito cultural reina até hoje.

Vocês já devem ter ouvido aquela pergunta para os casais adotantes: “Mas vocês não podem ter filhos?”

Às vezes as pessoas perguntam só por curiosidade, mas tem a diferença no tom, e acabamos ouvindo frases desnecessárias como : “você vai se arrepender, pega um bem novinho.”

Mitos ao Revelar a Adoção para o Filho

Os pais adotivos muitas vezes se sentem inseguros em relação ao filho, fantasiando que um dia ele poderá querer conhecer seus pais biológicos e caso isso aconteça, “o sangue falará mais alto”.

Essa insegurança vem da interpretação errônea de que eles foram os intrusos na vida natural do filho. E ela pode gerar problemas futuros como: crianças desobedientes e sem limites. O pior é que este receio é o que leva muitos pais a decidirem não contar ao filho que ele é adotado.

Entretanto, para esses casais revelar a situação à criança também reaviva sentimentos de incapacidade e frustração no caso de um dos pais ser infértil. Neste ponto, é importante averiguar com um profissional o que desencadeia esta frustração.

Este filho é meu e pronto!

A realidade para uma criança que está para adoção é a de que ela foi gerada por pessoas que não têm condições de criá-la. A partir do momento que a família adotante se apropria emocionalmente deste filho, não há lugar para inseguranças, onde o cuidar, educar e impor os limites é o que construirá esta nova e verdadeira família.

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