“‘Como podemos consumir o máximo de tempo e atenção possíveis?’ E para isso a gente precisava dar a vocês um pouco de dopamina [neurotransmissor relacionado a sensação de recompensa e prazer] de vez em quando. Porque alguém curte ou comenta sua foto ou publicação, isso vai fazer você contribuir com mais conteúdo, e isso vai te dar mais curtidas e comentários. É uma validação social cíclica”.
A frase acima é de Sean Parker, cofundador do Facebook. O mecanismo das redes sociais foi desenvolvido para reter a atenção da pessoa pelo maior período possível por meio de pequenas recompensas, como as curtidas, por exemplo. O estímulo ao vício é explícito, porém as consequências podem ser terríveis.
Um estudo realizado pela psicóloga americana, Jean M. Twenge, identificou que os jovens que gastam três horas ou mais nas redes sociais são 35% mais suscetíveis a cometerem suicídio ou ficarem deprimidos do que quem passa menos de uma hora. Para aqueles que passam cinco horas ou mais, a chance sobe para 71%.
Isso porque estamos falando somente das redes sociais. Quando o assunto é o próprio vício em celular ainda temos que considerar aplicativos de mensagens, jogos e as outras tantas possibilidades que todo celular proporciona. Como desapegar do celular pode ser difícil, ainda mais se não temos noção da dependência.
41,5% dos brasileiros são viciados em seus celulares. Os dados são da pesquisa realizada pela Motorola em parceria com Nancy Etcoff, psicóloga especializada em comportamento cognitivo da Universidade Harvard, no qual analisou o perfil de 20 mil pessoas.
O que caracteriza o vício?
A diferença entre hábito e vício pode ser tênue, porém a diferença que ela causa na vida das pessoas é enorme. O vício trabalha de forma que o indivíduo priorize a obtenção de prazer através da dependência em detrimento das atividades essenciais. A pessoa, então, começa a priorizar o vício mesmo que isso prejudique as demais esferas da sua vida, como família, amigos e trabalho.
O vício no celular pode ser relacionado com alcoolismo e o tabagismo, pois o indivíduo sofre com a abstinência também. Um sintoma que evidencia isso é toque fantasma, ou seja, ele passa a sentir a vibração ou som do aparelho mesmo quando ele não ocorre.
Técnicas para lidar com a dependência do celular
O primeiro passo para lidar com o vício do celular é saber se você é de fato um viciado em celular ou não. Para isso, existem alguns testes que ajudam na autodescoberta. O Instituto Delete, focado no uso consciente do celular, por exemplo, oferece esse tipo de serviço.
Outra possibilidade nesse sentido é instalar aplicativos que medem quanto tempo passamos usando o celular. Para aqueles que gostam de ficar muito tempo no celular, mas não sabem quantas horas diárias passam nele, essa é uma alternativa de autoconscientização. Menthal, Forest e Moment são alguns dos vários apps possíveis.
Tristan Harris, ex-funcionário do Google, trabalhava exatamente em modos para trazer a atenção do usuário para tela. Longe da empresa, hoje ele divulga algumas técnicas que podem ajudar no desapego de celular. Segue a lista abaixo:
– Deixar a tela com escalas de cinza: as cores brilhantes são como recompensas para o cérebro, por isso, é interessante eliminar esse reforço positivo;
– Desativar as notificações que não sejam pessoais: isso irá reduzir o número de vezes que o celular irá acender ou vibrar em busca da nossa atenção;
– Carregar o celular fora do quarto: pode parecer óbvio, mas manter uma distância física ajuda a lidar com o vício de celular;
– Possuir uma tela inicial mais limpa: diminuir a quantidade de aplicativos que vemos logo que usamos o celular diminui o uso deles;
– Usar mais a busca: o fato de ter que escrever para procurar algum aplicativo nos faz pensar se realmente precisamos utilizá-lo, assim, usamos menos o celular.
A importância do acompanhamento psicológico
“O uso abusivo do aparelho começa a se manifestar no corpo e revela alguns transtornos mentais. A ansiedade e o nervosismo podem transformar um dependente natural em dependente patológico” avisa Anna King, psicóloga ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O vício no celular é um vício e deve ser tratado como tal, pois pode gerar transtornos mentais. Dessa forma, o tratamento psicológico surge como a melhor maneira de lidar com o vício em uso de celulares, pois ele será o responsável por tratar desse problema. “Ter a orientação de um profissional e o conhecimento do vício, ajuda a se policiar e ter atitudes que beneficie a saúde diante ao aparelho”, diz King.
O acompanhamento psicológico irá reconhecer o vício e tratá-lo. O psicólogo irá procurar reforçar as estruturas mentais e identificar os gatilhos por trás do problema, além disso, promoverá o autoconhecimento como forma de melhor compreensão da situação pela pessoa. É interessante buscar um profissional especializado no tema, pois saberá como lidar melhor com os sintomas e anseios do paciente.
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