Todos somos vítimas e reproduzimos a masculinidade tóxica. Homens e mulheres. Heterossexuais e LGBTQIAP+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, queers, intersexuais, assexuais, pansexuais). Crianças e idosos. Todos estão dentro desse contexto.

E tal assunto não começou nos dias de hoje, aliás, as raízes da masculinidade tóxica remontam há dezenas de séculos. Nesse sentido, conseguimos traçar o seu começo para o momento em que a raça humana deixou de ser nômade com o advento da agricultura.

Cerca de 10 a 12 mil anos atrás, o processo de patriarcado e a noção de propriedade começavam a se instalar como formas de organização social. Os modelos de família heterossexual foram se formando e agindo como os sustentáculos principais do funcionamento social.

Nesta mesma época, as características atribuídas à mulher e ao feminino tornaram-se socialmente depreciadas. Além disso, as raízes da LGBTQIAP+ fobia começam a nascer e se estabelecer, uma vez que sexualidades consideradas desviantes (daquela que conhecemos como heteronormatividade) passaram a ser gradualmente discriminadas.

Masculinidade tóxica e a mudança de conceitos

A sociedade foi sendo desenvolvida por meio da competição entre clãs, famílias, vilas, cidades, povos e nações. Além disso, características começaram a ser atribuídas aos sexos e gêneros.

Dessa forma, os homens passaram a serem vistos como sendo fortes, rápidos, corajosos, valentes, agressivos, competitivos, racionais, práticos, ágeis, guerreiros, incisivos, defensores, dominadores, objetivos, sábios, firmes, provedores, potentes, fecundadores e reprodutores (quanto mais fecundar e reproduzir, mais homem será considerado).

Por outro lado, a mulher e o gênero feminino foram estereotipados num sentido praticamente ao oposto do homem. Então, passaram a serem vistos como sendo frágeis, lentos, delicados, vaidosos, preocupados muito com a estética, subjetivos, cautelosos, medrosos, emocionais, afetivos, sensíveis, sentimentais, dramáticos, geradores, procriadores, cuidadores, cooperadores e indefesos.

As imagens do homem e do gênero masculino passaram a ser construídos de maneira estereotipada e, geralmente, complementar ao feminino. Nesse sentido, homens e masculino passaram a ser igualados à força, enquanto as mulheres e o feminino foram igualados à fraqueza. Para sociedade competitiva, então, o homem e as características masculinas são exaltados.

Machismo na masculinidade tóxica

Um outro aspecto que compõe a masculinidade tóxica é o machismo. A palavra significa os modos ou atitudes consideradas de macho. Porém, se definiu ao longo dos tempos como um preconceito, no qual considera a mulher e o feminino inferiores ao homem e ao masculino em todos os sentidos.

Nessa forma de pensar, o homem é considerado naturalmente superior à mulher, fazendo dela o que bem entender. Em muitas situações mundo afora, aliás, a mulher ainda não é vista como um ser humano completo.

Nesse sentido, o machismo consiste num determinado conjunto de atitudes e ideias, que coloca o sexo masculino em um patamar elevado na sociedade. Entretanto, acaba subjugando o sexo feminino e não admitindo a igualdade de direitos para o homem e a mulher.

Além disso, a mulher e o feminino são transformados em objetos a serem manipulados pelo homem e o masculino, principalmente, no aspecto sexual, pois presenciamos muitos assédios e violências nesse âmbito.

Portanto, o machismo também pode ser definido como a ideologia que legitima o controle econômico e social do sistema político patriarcal. Nesse contexto, é interessante entender a origem da palavra patriarcado.

Patriarcado é uma palavra derivada do grego pater, “pai” e arché, “primeiro”, “origem”, “fundamento”, que nesse caso, se refere a um território ou jurisdição governado por um patriarca; de onde deriva a palavra pátria.

Sendo assim, o sistema patriarcal enquanto instituição é uma constante social tão profundamente radicada, que domina todas as outras formas políticas, sociais ou econômicas, gerando um estado de exclusão e discriminação social da mulher pautado na crença de uma superioridade masculina.

O problema da misoginia

Por meio do machismo, o gênero feminino e a mulher foram sendo desprestigiados por intermédio da misoginia. A palavra vem do grego misogunia, sendo miseó, que significa “ódio”; e gyné, “mulher” ou “feminino”.

Ou seja, trata-se do ódio, desprezo ou repulsa à mulher, ao gênero feminino e as características associadas a eles. Aliás, tal tratativa está diretamente ligada à violência contra a mulher. O feminicídio e impunidade, inclusive, aparecem cada vez maiores.

Então, a masculinidade tóxica é composta de todos esses elementos. Dessa forma, pressiona os homens e oprime as mulheres, independentemente da orientação sexual. Como vimos, são muitas cobranças que os homens precisam realizar.

Além disso, mulheres também são pressionadas a ser como os homens, isto é, bem competitivas, racionais e violentas. Um agravante nisso ainda é que muitas delas acumulam a dupla jornada (trabalhar fora e dentro de casa).

Enquanto isso, vemos uma sociedade totalmente dominada pelos vícios, lucros, produções, competições e consumo. Nesse sentido, temos uma estruturação social que vem sendo fundamentada pela masculinidade tóxica.

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Desde que me formei em Psicologia em 2002, já iniciei meus atendimentos em consultório, onde estou até hoje. Logo em seguida fiz cursos na área clínica em Gestalt-Terapia e Psicoterapia Existencial. Dediquei-me também aos estudos de mestrado e doutorado voltados a Psicologia Social, Sexualidade e Envelhecimento. Além disso, sou plantonista voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 1998, prestando apoio emocional, psíquico e prevenção do suicídio. É importante mencionar que atuei cinco anos como Psicólogo Clínico no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Quando solicitado, palestro em escolas, ONGs, etc. Em 2013 lancei o livro "Travestis Envelhecem?" e em 2017 o meu segundo, intitulado "Homofobia Internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo" ambos pela editora Annablume. Atuo como Psicólogo voluntário em uma ONG que presta amparo ao LGBTQIAP + idoso dentre outras. Também leciono no Centro Universitário São Roque. Atendimento a partir dos 18 anos de idade.

1 COMENTÁRIO

  1. Vivemos já há algum tempo, o retorno a Década de 60: Sexualidade fluída, porém de lá para cá com advento da pílula ao DIU, causou na psique dos homens “reprodutores”, socialmente chamados para casar ou formar famílias, como que se enquadrar nesse contexto: como que a Bissexualidade poderia ser vivida, afinal mulher postergando ser mãe ou cogitando nem ser! Noutra ponta, o pensamento penetrar homem como se fosse mantido o ser hetero, mas a ereção não permite a ele negar que o gênero que sentiu atração é o mesmo dele! Ai quando surgiu brotheragem e tantas outras palavras para substituir o ser gay fez o “ufa” surgir! Em resgate a Década de 60, me pareceu digamos coerente, o termo cisgenero resgatando a amplitude de atração que se pode ter, até a atração indo além do porte físico! Por mais que o homem aceite, admite, transar com homem e, sejam amigos, mas dentre os “emergentes bi”, ainda há quem preze pela iniciativa de beijar e penetrar!

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