Vivemos dois Natais. O primeiro é o Natal ideal, que revela o sentido a partir das concepções teológicas estabelecidas há séculos. O segundo é aquele Natal que conhecemos hoje no século XXI, ou seja, um Natal que sinaliza o modo como a maioria das pessoas o vivencia na prática.
O Natal ideal carece de uma busca constante de elementos duradouros e permanentes nas construções das relações humanas. Sendo assim, deve estar, em seu verdadeiro sentido, relacionado ao nascimento de um ser evoluído, presente em nosso cotidiano e não somente como uma comemoração.
Dessa forma, essa época precisa ser celebrada em nossas vidas como um elemento intrínseco à nossa fé, independentemente de qualquer dogma. Nesse sentido, deve ser uma experiência de amor, de esperança e de relações mais justas entre as pessoas.
O outro Natal traz um dezembro agitado e com uma lista de obrigações necessárias para que tudo saia perfeito. Esse período é associado à confraternização entre amigos e parentes, além da tradicional troca de presentes.
Tal festividade alimenta as fantasias dos pequenos, que na maioria das vezes, não sabe sequer o seu real significado. Ela é reduzida ao comércio, ao lucro e a propaganda, trazendo a “obrigatoriedade” de ser comemorado e substituído pelo consumo.
A história do Natal
O dia 25 de dezembro foi realmente estabelecido como o “dia de Natal” no século IV pelo Papa Júlio I. Essa, na verdade, foi uma tentativa de cristianizar as celebrações pagãs, que aconteciam entre 17 e 27 de dezembro e eram realizadas, principalmente, pelos romanos com uma festa chamada Saturnália.
Dessa forma, no ano de 529, o dia 25 de dezembro já havia se firmado como feriado. Além disso, em 567, os dias entre 25 de dezembro e 06 de janeiro (dia de Reis) foram considerados feriados públicos.
Portanto, o Natal não é apenas uma festa cristã. A celebração tem raízes no feriado judaico (Hanuká), nos festivais dos grupos antigos, nas crenças dos sacerdotes celtas e nos costumes folclóricos europeus.
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No hemisfério Norte, o Natal é uma festa invernal e próxima do solstício de inverno. Na Saturnália dos romanos, esses dias estavam associados ao clima e os homens vestiam-se de mulher, enquanto os patrões fantasiavam-se de servos. O festival envolvia procissões, decoração das casas, velas acesas e distribuição de presentes.
Do ponto de vista histórico, o Natal era uma soma de festas pagãs, tradicionais e folclóricas. Os cantos natalinos eram músicas para celebrar e comemorar as colheitas. Na época Medieval, o período era de banquetes e diversões. No dia 06 de janeiro era a comemoração da epifania, que no grego significa “aparição”, como referência ao momento em que Jesus foi enviado ao mundo.
Até o século XIX, a data não era uma festa familiar, dessa forma, era comum as pessoas beberem e saírem pelas ruas. O primeiro movimento puritano começou no reinado da rainha britânica Elizabeth 1ª (1558-1603) e se baseava em severos códigos de conduta moral, muita oração e uma interpretação rígida das escrituras do novo testamento.
Visão moderna do Natal
O Natal moderno fixou-se na era vitoriana (1837-1901). Um marco dessa fase foi a obra “Um conto de Natal” de Charles Dickens em 1843. O trabalho inspira ideias de um Natal entre as classes médias britânicas e americanas, que tinham dinheiro para gastar à vontade. Então, inicia-se com esse fato as festas de família.
Além disso, é interessante perceber a ascensão dos corais de Natal. A partir de 1950, os cânticos foram estimulados por sacerdotes, que incorporaram essa cantoria às celebrações natalinas religiosas.
Outro fator importante do Natal moderno é o aparecimento da figura do Papai Noel, cuja origem se monta nas tradições cristãs e europeias. Dessa forma, introduziu a ideia de que ele tradicionalmente visitava as casas à meia-noite para entregar os presentes dentro das meias que as crianças deixavam penduradas. Tal história foi popularizada por fabricantes de cartões de Natal americanos.
Ainda, é possível observar que nos Estados Unidos da América, surgiu a figura de Santo Klaus (São Nicolau), que distribuía presentes aos pobres.
Convivendo com os dois Natais
A construção dos diferentes significados do Natal nos faz refletir sobre a inserção do indivíduo e o papel do coletivo. Afinal, como celebrar uma festa de característica familiar e religiosa, quando a data está estupidamente influenciada por um individualismo crescente?
O Natal, hoje, é a festa cristã mais celebrada pela Igreja, centrada na reunião da família e na troca de presentes. Se em séculos passados a Igreja temia a influência pagã sobre as festas cristãs, as participações atuais derivaram para o consumismo desenfreado e os excessos que também marcam as festas de final de ano.
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Trata-se de um paradoxo absurdo: uma festa religiosa com a ocasião mais lucrativa para os comerciantes do mundo. Mesmo assim, isso não traz um impedimento do real significado do Natal. Devemos celebrar a paz, a saúde, o amor, a justiça, a fraternidade, a bondade, o compartilhamento e a empatia.
Acreditar em Papai Noel e crer no nascimento de Jesus faz parte da esperança, da crença (independente de qual seja), das relações humanas e de uma esperança que não podemos perder. Conforta saber que o Natal vem pelo nascimento de algo melhor e que deixa ensinamentos sobre humildade e simplicidade.