O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é um tema complexo e muitas vezes mal compreendido na psicologia contemporânea. Caracterizado por instabilidade emocional intensa, padrões de relacionamento turbulentos e uma autoimagem fragmentada, o TPB desafia tanto os indivíduos que o vivenciam quanto os profissionais de saúde mental que o tratam.

Neste texto, exploraremos profundamente o que é o transtorno borderline, suas manifestações clínicas, possíveis causas e as abordagens terapêuticas que oferecem suporte aos que enfrentam esse desafio diário.

Como é ter Bordeline?

Dona de uma das vozes mais marcantes da atualidade e de atitudes polêmicas, a cantora Amy Winehouse morreu em 2011, aos 27 anos de idade, após uma intoxicação alcoólica. Mas, o que muita gente não sabe é que, por trás das tatuagens, do álcool, das drogas e de seu comportamento controverso, a diva inglesa sofria de um transtorno pouco falado: A Síndrome de Borderline.

Os indivíduos que sofrem deste transtorno enfrentam uma montanha-russa emocional constante, onde sentimentos de vazio, medo de abandono e mudanças de humor abruptas são uma parte central de suas vidas.

No filme “Garota Interrompida”, dirigido por  James Mangold e baseado no livro de Susanna Kaysen, mostra a história da própria autora diagnosticada com o transtorno na década de 60.

“Sei exatamente como é querer morrer, como dói sorrir, como você tenta se encaixar e não consegue. Como você se fere por fora tentando matar o que tem dentro.” – Garota Interrompida, 1993.

O que é Borderline?

O primeiro teórico a utilizar o termo “borderline” foi o o psicanalista alemão Adolf Stern na obra “Terapia e investigação psicanalítica do grupo das neuroses borderline”. A palavra “borderline” vem do inglês e significa “na fronteira”, fazendo uma alusão aos portadores da condição que vivem no limite entre a neurose (perturbações sensoriais, motoras, emocionais e/ou vegetativas de origem psíquica que conservam a referência à realidade) e a psicose (há perda de noção da realidade).

Entretanto, também conhecida por Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Transtorno de Personalidade Borderline, a Síndrome de Borderline é caracterizada por um padrão de mudanças súbitas de humor, comportamentos impulsivos e autodestrutivos, deturpação da autoimagem, compulsões, descontrole emocional, entre outros.

Essa condição gera episódios intensos de raiva, ansiedade, depressão e dificuldade em criar laços, já que seus relacionamentos são instáveis. Além dos sintomas mencionados, os indivíduos com TPB frequentemente experimentam um profundo medo de abandono, levando a esforços intensos para evitar o afastamento de pessoas significativas.

Esta condição também pode resultar em sentimentos crônicos de vazio interior, levando a comportamentos como automutilação, tentativas de suicídio e uso prejudicial de substâncias para aliviar o sofrimento emocional.

Sinais e sintomas do Borderline

Os indivíduos com Borderline apresentam incertezas sobre quem são, além de mudanças súbitas e extremas de humor e interesses. Conheça mais alguns sintomas e sinais sobre o que o Borderline causa:

Instabilidade emocional

Pessoas com Borderline experimentam mudanças de humor intensas e frequentes, que podem alternar rapidamente entre extremos de euforia e desespero. Essas flutuações emocionais podem ser desencadeadas por eventos mínimos e são sentidas de maneira avassaladora, dificultando a manutenção de um estado emocional estável.

Padrões de relacionamento instáveis

Indivíduos com TPB frequentemente oscilam entre idealizar intensamente as pessoas próximas, colocando-as em um pedestal, e desvalorizá-las drasticamente, o que pode resultar em conflitos intensos e rupturas frequentes nos relacionamentos. Essa volatilidade emocional pode criar um ciclo repetitivo de aproximação intensa seguida de afastamento repentino, impactando negativamente a estabilidade dos vínculos afetivos e sociais.

Medo intenso de abandono

O medo de ser abandonado, real ou percebido, é uma característica central do TPB, levando a comportamentos extremos para evitar a separação. Isso pode incluir tentativas desesperadas de manter os relacionamentos, mesmo às custas da própria saúde emocional.

Distúrbios de identidade

A instabilidade na autoimagem é uma manifestação comum do TPB, onde a pessoa pode experimentar mudanças abruptas na identidade pessoal, valores e objetivos ao longo do tempo. Isso pode resultar em uma busca contínua por uma identidade estável e coerente, levando a impulsos para explorar diferentes papéis ou modos de vida, muitas vezes sem sucesso. 

Comportamentos impulsivos

Indivíduos com TPB são propensos a agir impulsivamente em várias áreas da vida, como gastos excessivos, comportamento sexual de risco, abuso de substâncias, alimentação descontrolada ou autolesão. Esses comportamentos podem ser uma tentativa de aliviar a angústia emocional intensa ou de preencher o vazio interior que frequentemente acompanha o transtorno. 

Autolesão ou comportamento suicida

A automutilação, as tentativas de suicídio ou as ameaças frequentes de suicídio são respostas desesperadas aos intensos sentimentos de dor emocional e ao vazio interior característicos do TPB. Esses comportamentos podem ser vistos como uma forma de lidar com o sofrimento emocional insuportável ou de comunicar sentimentos de desesperança e desamparo aos outros. 

Reações intensas e inadequadas ao estresse

Pessoas com Borderline frequentemente experimentam respostas emocionais desproporcionais a situações estressantes, como reações explosivas de raiva, pânico intenso ou desespero emocional extremo. Essas respostas podem parecer excessivas para os observadores externos, mas refletem a dificuldade do indivíduo em regular suas emoções e tolerar o desconforto emocional.

Sentimentos crônicos de vazio

A sensação persistente de vazio interior é uma característica frequente do TPB, independentemente de realizações externas ou interações sociais. Esse sentimento pode ser avassalador e levar a uma busca incessante por algo que preencha esse vazio emocional. No entanto, essa busca muitas vezes é infrutífera, contribuindo para um ciclo de insatisfação e desesperança emocional.

Paranoia ou dissociatividade

Episódios transitórios de paranoia ou dissociação podem ocorrer em indivíduos com TPB, onde eles podem se sentir desconectados da realidade, de si mesmos ou de suas próprias emoções. Esses episódios podem ser assustadores e contribuir para a sensação de estranheza ou de não pertencimento ao mundo ao redor.

Intensa dificuldade em controlar impulsos

A impulsividade no Borderline pode se manifestar em múltiplas áreas da vida, levando a decisões precipitadas que têm consequências negativas a longo prazo. Essa dificuldade em controlar impulsos pode ser particularmente desafiadora em situações de estresse emocional elevado, exacerbando a instabilidade emocional e interferindo na capacidade de tomar decisões racionais e ponderadas.

Causas

As origens do Transtorno de Personalidade Borderline ainda são pouco conhecidas. No entanto, sabe-se que existe uma predisposição genética para ela acontecer e fatores psicobiológicos acerca do descompasso cerebral do neurotransmissor serotonina.

Logo, outro possível causador do transtorno pode ser gerado por eventos traumáticos vividos pela pessoa durante a infância ou adolescência, tais como  abandono,  diagnóstico de doença, orfandade, morte de entes queridos, abuso psicológico e/ou sexual, negligência, terror psicológico, separação dos pais, entre outros.

Predominância por gênero

De acordo com o artigo “expressões da sexualidade feminina no transtorno de personlidade borderline”, acredita-se que o distúrbio seja mais predominante em mulheres (75%) e que os sintomas apareçam entre 18 e 25 anos de idade.

Essa predominância de gênero no transtorno reflete complexidades psicossociais e biológicas. A alta incidência entre mulheres pode ser atribuída a fatores como pressões sociais, papéis de gênero e sensibilidade emocional mais proeminente. 

A partir dos 18 aos 25 anos, período-chave de transição para a vida adulta, surgem desafios como estudos, carreira e relacionamentos, exacerbando sintomas. Contudo, é essencial considerar que diagnósticos podem ser subestimados em homens devido a estigmas associados a buscar ajuda. 

Borderline nos relacionamentos amorosos

Os relacionamentos amorosos com alguém diagnosticado com Borderline podem ser intensamente desafiadores e turbulentos. Isso pois, indivíduos com TPB frequentemente experimentam uma intensidade emocional extrema, oscilando entre idealização e desvalorização do parceiro.

Isso pode resultar em relacionamentos marcados por impulsividade emocional, mudanças rápidas de humor e comportamentos extremos, como ciúmes intenso, idealização excessiva seguida por desilusão repentina e ataques de raiva.

Além disso, o transtorno psicológico faz com que esses indivíduos muitas vezes tenham dificuldade em manter uma visão estável do parceiro e do relacionamento, o que pode levar a comportamentos impulsivos, como auto sabotagem, autolesão ou tentativas de manipulação emocional para evitar a separação.

O que fazer para ajudar?

Existem diversas maneiras de ajudar o indivíduo com a síndrome. 

  • Pesquise e se informe sobre o transtorno. O conhecimento é essencial para identificar os sintomas e auxiliar o borderline em crise.
  • Incentive a pessoa a procurar ajuda profissional;
  • Procure um psicólogo para receber dicas de como lidar com a síndrome;
  • Não banalize a condição e as frases ditas pelo borderline. Elas contem pedidos de ajuda inconscientes ou avisos que podem ser transformados em atos, como o suicídio. Em situações de emergência, ligue para o psiquiatra ou para o Disque 188 do Centro de Valorização da Vida (CVV). 

Famosos com Borderline ou com indícios do transtorno

  • Amy Winehouse;
  • Princesa Diana (Lady Di);
  • Angelina Jolie;
  • Marilyn Monroe;
  • Lindsay Lohan;
  • Britney Spears;
  • Monique Evans.

Amy Winehouse, em seu single “Rehab”, cantou “Eles tentaram me levar para a reabilitação e eu disse não”. Uma das características do Borderline é a compulsão. Amy tinha problemas com o abuso de drogas e álcool, porém todas as suas tentativas de reabilitação e tratamento falharam. 

Quando o paciente se recusa a ter o tratamento adequado, é importante ter o apoio da família. A cantora e o pai, Mitch Winehouse, sempre tiveram um relacionamento conturbado. Os mais próximos da família dizem que ele tentou pegar carona na fama de Amy e se aproveitar de seu talento para ganhar dinheiro e o próprio estrelado. Tal abuso só piorou a situação da cantora.

Nenhuma doença psicológica deve ser banalizada. Sem o tratamento psicológico adequado, o sofrimento só aumenta, assim como as chances de mais destinos trágicos, como foi o de Amy Winehouse.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico e tratamento do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) envolvem abordagens multifacetadas e individualizadas para cada paciente. Inicialmente, o diagnóstico é realizado por profissionais de saúde mental qualificados, frequentemente psiquiatras ou psicólogos, através de uma avaliação clínica detalhada. Isso pode incluir entrevistas estruturadas, histórico médico e observação do comportamento do paciente ao longo do tempo.

Os critérios diagnósticos principais incluem instabilidade emocional intensa, padrões de relacionamento interpessoal tumultuados, impulsividade, autoimagem instável e comportamentos autodestrutivos. Uma vez diagnosticado, o tratamento geralmente combina psicoterapia e, às vezes, medicamentos psicotrópicos.

A terapia mais comum é a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que ajuda o paciente a reconhecer e modificar padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos destrutivos. 

Contudo, medicamentos podem ser prescritos para tratar sintomas específicos, como antidepressivos para depressão ou ansiedade, estabilizadores de humor para impulsividade e antipsicóticos para sintomas psicóticos transitórios.

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1 COMENTÁRIO

  1. Bom dia
    Estou pesquisando sobre o TPB e li aqui : “É essencial realizar exames fisiológicos. O borderline no exame de sangue, ou hemograma, é identificável, assim como a sorologia. ” Não encontrei em lugar algum referência sobre esse fato de que é possível identificar o sintoma com exames de sangue. Poderia me dar uma referência ou falar mais sobre isso.
    Obrigada

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