O luto é um desafio interno repleto de angústia, dor e questionamentos. Nós nunca sabemos o dia de amanhã, tampouco quando será a nossa hora, ou a hora do outro. No entanto, o período pós perda costuma ser intenso e cheio de significados para quem está nele.
Sabemos que falar sobre a morte, no geral, é muito delicado. Entretanto, muitos de nós temos a tendência de considerar a morte como um fato aceitável e natural apenas na velhice. Isso, por sua vez, acaba dificultando a nossa aceitação quanto o óbito é inesperado.
Nesse sentido, compreender a morte é fundamental no tratamento de todos que passaram e ainda passam pelo luto. Cada um precisa levar o tempo que for preciso para recompor-se e superar o grande choque da perda.
O que é o luto?
O luto é um conjunto de sentimentos que vem após uma perda significativa. Logo, seu processo é uma adaptação à ausência de algo, ou alguém, e se organiza quando a falta é tomada como algo real.
O significado de luto, no entanto, sempre será diferente para cada pessoa. Entretanto, apesar da dor, o processo é saudável e necessário para a cicatrização e elaboração das feridas emocionais provocadas pela falta.
Logo, é um trabalho subjetivo, mobilizado por uma resposta inevitável que move o indivíduo a viver um processo de ajustes em todos os setores da vida.
Quando a morte leva alguém que amamos, muitas pessoas tentam assumir posturas contrárias aos seus sentimentos de dor, por medo de não sair da situação de tristeza e amargura. Porém, o correto, por pior que pareça, é se permitir sofrer.
Portanto, somente quando extravasamos as emoções é que conseguimos aceitar os fatos. Sendo assim, vale afirmar que, a privação dos sentimentos podem acarretar em problemas psicológicos e desenvolvendo um tipo de patologia, chamado luto patológico.
Por que reprimimos nossas emoções?
Reprimir nossas emoções durante o luto é um fenômeno complexo influenciado por diversos fatores. Muitas vezes, sentimos a pressão social de manter a compostura ou de evitar demonstrações públicas de tristeza.
Além disso, o medo do julgamento pode nos levar a reprimir nossos sentimentos, preocupados com a forma como seremos percebidos por outros. Em alguns casos, essa repressão emocional pode ser vista como uma forma de autopreservação diante de uma dor avassaladora, uma tentativa de proteger-se da intensidade dos sentimentos que acompanham a perda.
A falta de um suporte adequado também desempenha um papel significativo. Entretanto, quando não há um espaço seguro para expressar livremente nossas emoções, pode ser mais difícil lidar com o luto de maneira saudável, impedindo que essa fase seja vivida e superada.
O luto patológico
O luto patológico, também conhecido como luto complicado ou transtorno de luto complicado, ocorre quando uma pessoa tem dificuldade significativa em lidar com a perda de alguém querido.
Logo, é um período marcado por uma intensificação dos sentimentos, impedindo a reorganização da vida, a superação e o início de projetos futuros. Diante disso, sentimentos de raiva, culpa, impotência, perda, ansiedade, depressão, tristeza e desamparo fazem parte desse conjunto de emoções denominadas como luto prolongado ou patológico.
Nestes casos, o acompanhamento psicológico é essencial para o indivíduo. Lidar com a morte nunca foi algo fácil, e algumas pessoas costumam ter mais dificuldades do que outras para entender o processo.
Ainda, vale ressaltar que, podemos classificar o processo de luto como toda adaptação à perda, independente do que se trata, sendo assim, não exclusivo à morte. Dessa forma, entende-se também que ele ocorre quando há algo que abala emocionalmente a vida de alguém, podendo ser considerado como luto também, o término de um relacionamento.
O tipo de morte impacta no luto?
No luto relacionado a morte, podemos falar de diversos tipos de óbito: o natural, o não natural (acidentes, violência, suicídio), os decorrentes de doenças graves e também imprevistos clínicos. Visto isso, o ambiente e a forma em que a morte ocorre determinam em grande amplitude a forma que ela vai ser encarada.
No entanto, o comportamento frente a morte é determinado por diversos fatores e, muitas vezes, dependendo de como a pessoa falece, digerir o acontecimento se torna mais difícil. Nesse sentido, é muito mais fácil aceitar que uma pessoa, já aos 90 anos, morreu por doença, do que aceitar que um jovem de 18 anos morreu em um acidente.
Para amenizar o sentimento de luto, costumamos criar repertórios para lidar com o rompimento do vínculo. Logo, sempre tentamos justificar o óbito, mas dependendo do caso, como justificar? Como entender o por quê aquilo aconteceu?
Uma hora os repertórios se tornam inexistentes e dizer “viveu tudo o que tinha pra viver e agora vai descansar em paz” já não se torna mais um consolo. O tipo de morte impacta no luto.
De fato, o ser humano não está preparado para enfrentar a transitoriedade da vida. Desse modo, a dor da perda é avassaladora para o emocional das pessoas submetidas a essa experiência.
A subjetividade do pós perda
Não há como denominar tipos de luto, ele é um processo único e individual. Contudo, pode-se interpretá-lo em níveis, que partem da ideia de aceitação e da intensidade emocional com a qual o momento é vivido.
Sendo assim, não são todas as pessoas que choram compulsivamente e descontroladamente. Dessa maneira, há também pessoas que conseguem manter sua rotina normalmente, porém, isso não significa que elas não estejam no mesmo processo de dor e compreensão. São somente modos distintos de lidar com a perda.
Além disso, existe também também o luto de pré-morte, ou seja, quando alguém passa por um processo irreversível e os familiares e amigos queridos já começam a aceitar a perda antes mesmo dela de fato acontecer.
As 5 fases do luto
Apesar do luto ser um processo individual e que varia de pessoa para pessoa, na maioria das vezes, ele segue uma padronização até sua esperada superação. Diante disso, a psiquiatra Kübler-Ross aponta cinco fases para a elaboração do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Contudo, essas denominações não significam o fim do sofrimento, mas um período em que a pessoa deixa de lutar contra o fato de que a morte aconteceu, o que facilita o enfrentamento.
No entanto, quando falamos em elaboração do luto, nos referimos à vivência da perda e das dificuldades em entrar em contato com as contingências do vazio que a falta causa.
Alguns autores colocam um período de quatro meses até dois anos para a superação de uma perda. Entretanto, o que determina esse processo e a magnitude deste fato é o vínculo que existia com a pessoa que morreu. Dessa forma, alguns estudos classificam o luto em cinco etapas:
1. Negação
Esta primeira fase acontece após o recebimento da notícia. É definida pela negação da realidade e do problema. A longo prazo, a ficha parece ainda não ter caído, desse modo, a pessoa sempre tenta achar algum jeito para relembrar a perda.
Contudo, as pessoas costumam cheirar as roupas usadas do falecido, vestir seus acessórios, passar tempo vendo fotos e vídeos, chorar bastante e sentir desânimo para realizar suas atividades diárias nessa fase. No primeiro momento, é preciso tempo para digerir a situação.
2. Raiva
Os dias passam e a ficha começa a cair. Por que isso aconteceu? Nessa fase, a raiva toma conta da pessoa por considerar uma injustiça a morte de seu ente querido. Logo, buscam um culpado pelo ocorrido – muitas vezes eles mesmos. Será que eu poderia ter feito algo que impedisse a morte? E se ele não tivesse saído de casa naquele dia?
Todavia, os questionamentos só aumentam e parece inacreditável que aquilo tenha acontecido com alguém que você ama tanto. Os pássaros continuam cantando, as pessoas continuam seguindo suas vidas e o sol brilha como sempre. É revoltante pensar que a vida continua mesmo com seu coração devastado.
3. Negociação
A rotina exige que você continue a vida e você decide sair da fossa. Visto isso, na etapa de negociação a pessoa busca uma solução para alterar o que aconteceu. Geralmente, negocia possíveis mudanças e realiza promessas para si mesmo.
Viver para fazer jus ao legado que a pessoa querida deixou, entrar para projetos sociais e realizar desejos que o falecido não pode cumprir são formas de continuar a vida com um propósito e que, são comuns de serem elaboradas nessa fase.
4. Depressão
Mesmo tentando continuar a seguir em frente, o período de depressão surge após a pessoa dar continuidade a sua vida e perceber a falta da pessoa amada. Logo, a dor, a tristeza e cansaço ficam mais fortes.
O indivíduo se isola e sente-se impotente diante da situação. Sendo assim, os dias parecem tristes, e nada faz sentido. Na etapa de depressão, a realidade é enxergada com mais clareza e a morte do ente querido já não parece mais algo irreal.
5. Aceitação
O tempo passa, as informações vão se organizando e aquele processo doloroso vai chegando ao fim. A saudade ainda continua, mas a compreensão faz com que seja possível enxergar novamente a vida com paz e sem a pessoa amada.
Na quinta etapa, a morte é aceita. Diante disso, compreendemos o acontecimento e não mais sentimos raiva, apenas entendemos e seguimos a vida como ela deve ser seguida. Ao lembrar do falecido, ainda dói, mas nosso dia a dia não é mais tomado por aquela profunda angústia de antes.
O que é normal de sentir no período de perda?
Falar sobre o luto é importante, então, devemos conhecer também os sentimentos e consequências que podem se aflorar nesse período complicado. Entende-se, por sua vez, que não há como superar a morte de uma maneira fácil e cada pessoa sente a dor de forma diferente.
Algumas pessoas serão marcadas pelo isolamento social, baixa autoestima e pessimismo durante o tempo de luto, enquanto outras poderão percorrer as etapas do luto com impulsividade, hostilidade e agressividade.
De qualquer forma, a dor do luto precisa ser sentida. Um dos cuidados, entretanto, no período de luto é com a utilização de substâncias lícitas (álcool, tabaco) ou ilícitas (drogas tóxicas). A busca da realidade por meio desses agentes pode ser muito prejudicial para a saúde e dificulta a melhora emocional.
De qualquer forma, o processo de luto dá sinais de quando ocorre e devemos prestar atenção neles para procurar ajuda caso os sintomas sejam excessivos e persistentes. No período de luto, após receber a notícia de morte de alguém, é comum:
- Ter crises de choro, raiva, estresse e ansiedade;
- Apresentar sintomas de alimentação compulsória ou falta de apetite;
- Sofrer com insônia;
- Passar dias melancólicos;
- Demonstrar sinais depressivos;
- Apresentar falta de vontade de exercer qualquer atividade, como estudo e trabalho.
Como acabar com a dor do luto?
Primeiramente, é importante destacar que o luto não é um transtorno ou uma doença, ele é um processo natural de aceitação. Portanto, todos aqueles que sofreram perdas de entes queridos estão dentro do período de luto.
Não é necessário, nem indicado, que haja controle emocional por meio de medicamentos e tratamentos mais específicos, pois os sentimentos não devem ser, de forma alguma, contidos, e sim superados e compreendidos.
Desta maneira, o mais indicado para acabar com a dor do luto é um acompanhamento psicológico para que haja uma assimilação melhor dos fatos para que, assim, a dor emocional seja amenizada.
Contudo, aconselha-se o tratamento psiquiátrico somente em casos de reações psíquicas no processo emocional, ou seja, quando o estresse, a insônia e a depressão tomarem o controle da situação e da vida da pessoa.
Dicas para superar o luto
A morte é um tabu, um assunto que se evita, poucos falam e temem. No entanto, não é possível falar com exatidão quanto tempo dura o luto e como superá-lo. Por conta disso, é interessante saber de algum modo dicas sobre como lidar com a morte de alguém próximo.
Afinal, a única certeza que se tem na vida, é que um dia seremos acometidos por esse fenômeno. Nesse sentido, veja a lista de dicas importantes para você saber e praticar:
1. Dê tempo ao tempo
No período de luto, é importante dar chance ao tempo, procurar encarar o luto como sinal de processo e um ciclo que terá fim. Ele poderá durar bastante tempo, por isso, é importante se livrar de cobranças e expectativas
2. Procure ajuda profissional
Procurar ajuda psicológica é uma maneira excelente de lidar com a dor, porque só assim a pessoa terá oportunidade de falar tudo o que sente e que a incomoda. Por conseguinte, o psicólogo poderá ouvir e aconselhar, respeitando a dor e direcionando o paciente da melhor forma
3. Não deixe a rotina de lado
Lidar com o luto pode ser complicado, por isso, continue a vida da melhor forma possível, ou seja, vivendo a rotina, mesmo que seja difícil se esforce. No entanto, conseguir continuar a fazer o seus afazeres poderá te ajudar a sair do limbo da angústia constante.
4. Recorde com amor
Tenha sempre em mente boas lembranças, reviva somente as memórias boas e momentos felizes. Leve com carinho a pessoa amada lembre-se o pra que ela viveu, e não o por que morreu, esse é um ótimo exercício de fixação que te ajudará a aceitar a perda de forma mais leve.
5. Faça atividades prazerosas
Reserve mais tempo para descansar, se cuidar e dar uma atenção maior para as coisas que gosta de fazer, momentos de lazer são importantes para aliviar a ansiedade e angústias trazidas pela morte. Atividades prazerosas aumentam o estímulo de hormônios responsáveis pela felicidade!
Como confortar alguém de luto?
O luto é um período difícil não só para quem está vivenciando o processo. Logo, as pessoas ao redor também são fortemente impactadas pelos sentimentos de perda do outro, bastam ter um pouco de empatia.
Muitas vezes não sabemos o que dizer, como nos portar ou o que falar para alguém que perdeu algum amigo ou familiar próximo. No entanto, não existe palavra certa ou um remédio especial que vá tirar a dor do outro mas, algumas atitudes podem amenizar, mesmo que temporariamente, o sofrimento. Em contrapartida, para confortar alguém de luto:
- Preste suas condolências;
- Diga que está presente para o que acontecer;
- Pergunte se deseja companhia ou se quer conversar sobre;
- Dê um abraço bem forte;
- Além das palavras, demonstre com atitudes dias depois. Faça uma visita, leve um café ou um presente para mostrar que você se importa.
A terapia do luto como auxílio emocional
Mesmo que seja possível, não precisamos lidar com tudo sozinhos. Visto isso, a terapia do luto é uma estratégia de tratamento psíquico utilizada para que o luto seja superado e o ciclo com a pessoa falecida seja encerrado.
Contudo, é importante que o profissional tenha conhecimento em tanatologia e em terapia de luto para que as intervenções terapêuticas cooperem de forma eficaz nas reações frente à vivência da morte.
O psicólogo especialista em terapia do luto permite que as pessoas se sintam amparadas, validadas por seus sentimentos e produz reflexão, elaboração e aceitação do luto.
A importância do acompanhamento psicológico
O sofrimento frente a uma perda é inevitável. Nesse sentido, para sair desse limbo, é importante encontrar um direcionamento para a resolução do luto, a reorganização da vida e o investimento em um emocional saudável, com um novo sentido de existência.
Em cada uma das fases do luto, o mais importante é vivenciá-las, pois é uma etapa que precisamos encarar para aceitar e compreender os processos da vida. Logo, um profissional especialista pode ser de extrema ajuda no apoio ao indivíduo, proporcionando uma adaptação e uma retomada à vida no seu cotidiano.
O luto é uma travessia por um percurso que precisa ir da dor da perda até a completa ressignificação da pessoa que fica. Em conclusão, compreender esse trajeto implica na necessidade de conhecer e descobrir-se e, com isso, atingir uma nova dimensão enquanto ser humano.