A perda gestacional é toda interrupção espontânea da gravidez e ocasiona muitos desafios emocionais para quem passa por ela. Isso pois, para muitas mulheres e suas famílias o período de gestação é recebido como uma dádiva, sendo vivido com grande expectativa. Porém, existem histórias que não tem um final feliz.

Contudo, vivenciar esse processo de luto é ainda mais desafiador quando a ordem que aprendemos ser natural se inverte. Entretanto, o luto e a ressignificação dessa perda é particular, ou seja, cada mãe e família terá sua forma de elaborar a falta e suas consequências. 

O que é considerado uma perda gestacional espontânea?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é considerado uma perda gestacional espontânea quando o feto pesa menos de 500 gramas e o tempo de gestação é inferior a 20 semanas. 

No entanto, algumas dessas intercorrências têm sido frequentes para algumas mulheres que descobrem no pré-natal, durante o primeiro trimestre alguma alteração cromossômica, má formação fetal ou até mesmo questões de sua própria saúde.

Hipertensão, tabagismo, uso/abuso de álcool, diabetes entre outros fatores também podem interferir e inviabilizar a continuidade da gravidez.  

Outro acontecimento comum é o óbito intra-útero, quando por volta das 22 semanas completas de gestação e peso superior ou igual a 500g o feto não sobrevive. Ainda é possível observar situações em que no peri ou pós parto alguns bebês não resistem por motivos diversos.  

Os desafios emocionais que são enfrentados

Passar por uma perda gestacional pode trazer adoecimento psíquico e a produção de diversos sintomas, inclusive os psicossomáticos, como:

  • afastamento sexual do cônjuge;
  • licença do ambiente de trabalho;
  • tristeza e choro persistente;
  • medo de engravidar novamente;
  • isolamento social;
  • prejuízos na autoestima e autoimagem;
  • dificuldade de falar sobre o bebê. 

Todavia, esses sentimentos e comportamentos são esperados, pois estamos diante do sofrimento produzido por uma perda concreta e simbólica. Mas e agora, o que fazer para elaborar essa dor e falta, já que quando falamos de gravidez temos a expectativa da chegada de um bebê?

1. Respeite seu tempo e modo de ressignificar

Sofrer é humano, estamos sujeitos a várias questões que nos atravessam diariamente. Porém, cada sujeito tem seu modo de estar na vida e por esse motivo a expressão de sofrimento é individual. 

É natural o choro, vazio, tristeza, raiva, falta de sentido ante situações traumáticas e de perda.  Por isso, respeite seu tempo, não tenha pressa em melhorar. 

Você pode viver esse período mais quieta e silenciosa, mas cuidado para não paralisar ou abandonar atividades importantes como higiene pessoal, alimentação, sono e até mesmo o convívio familiar.

2. Aos poucos, volte a rotina normal

Ao passar um tempo, volte a vivenciar sua rotina habitual. Seja ir ao salão, realizar seus esportes ou treino físico, rotina de trabalho, encontros com os amigos e parentes. 

Retome seus projetos e busque executá-los, esse movimento é indispensável para seguir com sentido e propósito. O luto precisa ser vivido e pode ser vencido. Entretanto, apesar de saber respeitá-lo, precisamos aprender a continuar vivendo apesar dele.

3. Fale sobre sua dor

Faça terapia! Essa afirmação é sem dúvida a melhor intervenção em prol da saúde psíquica de qualquer pessoa que sofre. Freud, o criador da psicanálise em seu constructo teórico afirmou que a análise e as psicoterapias proporcionam a cura pela fala. 

Nesse sentido, falar sobre o que pensamos, sentimos, vivemos e observamos no mundo externo nos possibilita a elaboração do luto, dos medos, da falta e tantas outras situações que experimentamos nessa existência. 

Somente no espaço terapêutico podemos falar livremente, sem julgamentos e com o acolhimento necessário para seguir. Fale sobre suas expectativas para o bebê, fale seu nome, tenha consigo uma recordação material se possível, pois você é mãe desse bebê que existiu na sua história, que por sinal é uma história de amor.     

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