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A importância da primeira infância e o desenvolvimento infantil

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Você sabia que apenas 5 países adotam as três políticas fundamentais para apoiar o desenvolvimento saudável do cérebro das crianças? Entenda a importância da primeira infância para o desenvolvimento infantil.

O célebre naturalista britânico Charles Darwin, responsável pela Teoria da Seleção Natural, tinha a curiosidade como Norte. E, como um bom cientista, nem o próprio filho passou despercebido em sua ânsia de analisar e descobrir. O naturalista mantinha um diário sempre atualizado com observações que fazia dos próprios filhos, pois queria saber como o desenvolvimento infantil se dava.

Você já imaginou o que se passa na mente de um bebê? Como será que eles enxergam o mundo nos primeiros meses de vida? Foi pensando em responder essas perguntas que os cientistas, inspirados por Darwin, passaram a pesquisar mais sobre esse universo e desvendar as vontades, pensamentos e motivações que os nossos pequenos possuem.

Os seis primeiros anos de vida são os mais importantes no crescimento e desenvolvimento da criança. É essencial que pais, cuidadores, professores e todos que participam efetivamente da vida da criança estejam conscientes de seus papéis tanto no desenvolvimento cognitivo dela, quanto no social e intelectual.

Se você pensa que um bebê não compreende nada do que dizemos, transmitimos ou proporcionamos, está redondamente enganado. As crianças, desde bebês, participam ativamente do universo que a cerca e é impactada pelos estímulos que recebe. Ou seja, se ela recebe amor, é amor que irá refletir e internalizar. Mas se ela viver em um ambiente hostil e sem condições favoráveis para absorver emoções positivas, ela poderá ter o seu desenvolvimento prejudicado e até criado traumas que, para a vida adulta, serão refletidas no modo como enxerga e reage ao mundo.

O que é primeira infância?

Segundo o Ministério da Cidadania, “estudos científicos de diversas áreas, como neurociência, psicologia do desenvolvimento e sobre os impactos de políticas públicas voltadas para a infância, têm apontado que o período de maiores possibilidades para a formação das competências humanas ocorre entre a gestação e o sexto ano de idade”.

O período da primeira infância corresponde ao pré-natal e o sexto ano de vida da criança, contabilizando 1.000 dias de desenvolvimento crucial para o crescimento desse ser. Nesses primeiros anos, cerca de mil células cerebrais se conectam por segundo, o que proporciona a saúde mental e física da criança, assim como o seu desenvolvimento estrutural pleno. É por isso que crescer em um ambiente cercado de segurança, saúde, boa alimentação e estímulos positivos é imprescindível.

A importância da primeira infância

Desenvolvimento psicossocial e cognitivo infantil

Primeiramente é importante explicar o que é cognição. A cognição é um conceito da psicologia que surgiu em meados dos anos 70 e se caracteriza pelo conjunto de habilidades que um indivíduo tem para perceber, interpretar, conhecer e prever os mais variados estímulos, gerando respostas condizentes a eles. Ou seja, é a maneira como nós percebemos o que e quem nos cerca por meio dos cinco sentidos.

É na primeira infância que o indivíduo aprende muito e de forma rápida. As crianças absorvem todo o tipo de informação, emoções e experiências que são expostas. É por isso que, mesmo que ela não compreenda 100% determinada situação, os sentimentos e palavras ali inseridos serão incorporados. Quando a criança está em um ambiente de brigas constantes, falta de estímulos ou em condições de extrema pobreza e desnutrição, esses fatores culminarão na absorção somente de estímulos negativos, o que prejudica o desenvolvimento cognitivo e social.

As brincadeiras são de extrema importância para a realização de conexões de neurônios, desenvolvimento da cognição, aprendizado e interação social. A criança que brinca constantemente, consegue aprender a responder aos estímulos de forma cada vezes mais rápida e estabelecer contato com o mundo.

É através das brincadeiras que as amizades são criadas e que os laços são estreitados. Os pais, a escola e qualquer pessoa que tenha convívio com os pequenos deve estimular a prática dessas atividades e fazer com que o momento seja dedicado inteiramente a isso. Os pais que não têm tempo ou julgam essas atividades sem importância estão fazendo um desserviço ao desenvolvimento saudável das estruturas cerebrais, cognitivas, intelectuais e sociais de seus filhos.

“Ao brincar, a criança utiliza todos os seus sentidos – audição, visão, paladar, tato, olfato e movimento – para coletar informações sobre seu mundo. Mais tarde, a linguagem será outro meio de coletar informações. Organiza e reorganiza essas informações, transformando-as nas primeiras imagens de si própria, outras pessoas e seu mundo”, explica documento da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

Construção de conexões de neurônios

É na primeira infância que o cérebro da criança está à todo o vapor. É nesse período que acontecem milhares de conexões à todo o instante, e tais conexões são essenciais na formação e expansão das estruturas cerebrais. O cérebro dos pequenos é moldado a partir das experiências e do ambiente em que vivem.

“Boas experiências iniciais promovem o bom desenvolvimento do cérebro da criança. Quanto mais o cérebro trabalha, maior sua capacidade de trabalhar. Quando a criança brinca, seu cérebro trabalha muito”, aponta a UNICEF.

Você sabia que apenas 5 países – Cuba, França, Portugal, Rússia e Suécia – adotam as três políticas fundamentais para apoiar o desenvolvimento saudável do cérebro das crianças? O dado foi revelado pelo relatório “Early Moments Matter for Every Child“, publicado pela UNICEF. As políticas fundamentais não são tão impossíveis, e ainda assim, os países têm dificuldade em implementá-las. São elas: dois anos de educação pré-primária gratuita; pausa para amamentação no trabalho para as novas mães durante os primeiros seis meses; e licença parental adequada.

Consciência da existência de regras

Seja em brincadeiras, conversas ou na observação do meio, a criança é exposta às mais diversas regras sociais e ela consegue absorvê-las, mesmo que não consiga colocá-las em prática dependendo da idade. Ser um bom exemplo é o primeiro passo para criar a consciência de que as regras existem. O próximo passo é ensinar e praticar atitudes durante a rotina para que a criança internalize essas novas regras. As brincadeiras são ótimas fontes de aprendizado, e aprender regras através delas pode deixar tudo mais divertido e mais compreensível para elas.

E quando a criança é desamparada na primeira infância?

“Quando este processo ocorre de modo inadequado pela não atuação e participação dos pais, a criança não consegue estruturar as melhores condições para lidar com as suas emoções. Poderá se tornar pouco habilidosa para administrar as adversidades naturais do dia a dia, desenvolvendo uma baixa tolerância à frustração, além de comportamentos desviantes e que irão prejudicá-la no seu desempenho como ser social. Isso não favorece ajustes nos seus relacionamentos futuros e gera sensíveis prejuízos no seu desempenho como pessoa”, aponta o Hospital Infantil Sabará.

Segundo a UNICEF, “o estímulo e acompanhamento na primeira infância podem quebrar ciclos de pobreza e vulnerabilidade”. Investir tempo, afeto, condições adequadas de crescimento e suporte ao desenvolvimento cognitivo-social deveriam ser premissas básicas das políticas sociais de qualquer país, porém não é isso o que acontece em 85 milhões de crianças menores de 5 anos. Segundo relatório da UNICEF, há 32 países sem nenhuma das três políticas citadas anteriormente. Além disso, 40% dessas crianças vivem em apenas dois países: Bangladesh e Estados Unidos.

A predisposição a traumas, problemas psicológicos, transtornos e outros problemas psicológicos tem muito a ver com os primeiros anos de vida de um indivíduo. Ou seja, quanto mais estímulos positivos a criança receber, mais resultados positivos ela irá colecionar ao longo da vida, o que a fará tornar um adulto mais consciente e inteligente emocionalmente.

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