A psicanálise é uma das abordagens mais profundas e impactantes dentro da psicologia, introduzida por Sigmund Freud no início do século XX. Este campo revolucionário propõe que muitos dos nossos pensamentos, emoções e comportamentos são influenciados por impulsos inconscientes e experiências da infância.

Ao explorar o inconsciente, a psicanálise busca revelar as raízes profundas dos problemas emocionais e mentais que podem afetar a vida de uma pessoa. Além de uma teoria terapêutica, a psicanálise se tornou uma forma de compreender a mente humana em sua complexidade e singularidade.

História da psicanálise

Para entender o que é psicanálise precisamos conhecer a trajetória de Freud e de seus colaboradores e tutores. Dessa forma, será preciso voltar até o final do século XIX e rever o desenvolvimento das ideias iniciais do fundador dessa escolástica.

Sendo assim, podemos compreender o início dessa jornada em 1881, ano em que Freud se formou em Medicina pela Universidade de Viena. O pai da psicanálise, então, especializou-se em psiquiatria e demonstrou ser um renomado neurologista.

Nesse sentido, Freud começou a trabalhar na área clínica, porém encontrou diversos pacientes com “problemas nervosos”, o que aguçou o seu interesse sobre as questões mentais e como resolvê-las.

Então, o pai da psicanálise acabou indo para Paris, entre 1885 e 1886, para trabalhar junto com Jean-Martin Charcot, neurologista francês. Dessa forma, Freud estudou o tratamento de histeria realizado pela hipnose.

Depois disso, Freud continuou estudando sobre doenças nervosas e estabeleceu uma nova teoria: as pessoas que não colocavam os seus sentimentos para fora acabavam ficando com a mente doente. Nesse sentido, ele procurou estabelecer novas conexões entre as emoções e as decorrentes consequências dela fisicamente.

O desenvolvimento da psicanálise

Entretanto, um grande avanço no desenvolvimento dos conceitos da psicanálise aconteceu com a parceria de Freud com Joseph Breuer, médico austríaco da época. Juntos acompanharam o caso clínico de Anna O e escreveram suas descobertas no livro “Estudos sobre a histeria”.

Durante a parceira, eles procuravam utilizar uma intervenção na qual permitia os pacientes reviverem suas experiências passadas através do estado hipnótico. Sendo assim, buscavam acessar os sintomas histéricos dessas pessoas.

No entanto, Freud e Breuer discordavam em relação à etiologia do transtorno psíquico da histeria. Nesse sentido, Freud acabou percebendo algumas limitações do tratamento com a hipnose, pois nem sempre eram garantia de sucesso.

Então, Freud continua os seus estudos e decide abandonar a intervenção pela hipnose como forma de tratar as pessoas. Dessa forma, passa a utilizar o método da livre associação, em que os pacientes eram convidados a falar tudo e sem censuras. Essa mudança, que acabou sendo a técnica definitiva de Freud, acaba marcando o início da psicanálise.

Psicanálise: o que é?

Acabamos de compreender todo o processo histórico que culminou no surgimento da psicanálise, entretanto, o que é a psicanálise?

Segundo a Associação Americana de Psicologia (APA), “a psicanálise é uma especialidade da psicologia que se distingue de outras especialidades pelo seu corpo de conhecimentos e suas abordagens intensivas de tratamento. Ele visa mudanças estruturais e modificações da personalidade de uma pessoa”.

Basicamente, a psicanálise trata-se de um método utilizado para investigar a mente e, principalmente, compreender o inconsciente das pessoas. Ou seja, procura entender as nossas atitudes que acontecem quando estamos no “piloto automático”.

Dessa forma, a teoria psicanalítica procura reestruturar entender a vida emocional e os modos de funcionamento psíquico dos pacientes. Além disso, realiza um trabalho a longo prazo com aspectos conscientes e inconscientes do eu.

Fundamentos da psicanálise

A psicanálise de Freud possui diversos conceitos e estruturas, entretanto, conseguimos dividir tais questões em duas formas de compreender o aparelho psíquico. Então, a disposição da mente pode ser dividida entre primeira tópica (modelo topográfico) e segunda tópica (modelo estrutural).

Sendo assim, iremos nos aprofundar nas fases teóricas de Freud. Vale ressaltar que cada uma delas conta com três elementos que constituem a divisão da mente humana. Além disso, uma não substitui a outra, porém demonstra a evolução histórica das concepções mentais.

Primeira tópica

A primeira tópica, também conhecida como modelo topográfico, procurava estruturar o aparelho psíquico em padrões e transições entre as partes, além de explorar os elementos do sistema perceptivo-consciente.

Dessa forma, a primeira concepção do funcionamento do psiquismo de Freud trabalhou com os conceitos de pré-consciente, consciente e inconsciente.

Pré-consciente

O pré-consciente refere-se às partes latentes da mente que estão disponíveis para a consciência, embora não estejam ativamente sendo utilizadas. Esses conteúdos podem ser acessados quando necessários, diferentemente do inconsciente, que é inacessível diretamente. Inclui memórias das quais não estamos conscientes no momento, mas que podemos trazer à mente quando queremos.

Consciente

A mente consciente contém todos os pensamentos, memórias, sentimentos e desejos dos quais estamos conscientes a qualquer momento. Dessa forma, trata-se de um aspecto do nosso processamento mental sobre o qual podemos pensar e conversar racionalmente.

Freud e o inconsciente

Para Freud, o inconsciente engloba tudo aquilo que está além da nossa consciência. Inclui desde desejos mais íntimos até as primeiras memórias da infância. É visto como um reservatório de pensamentos, impulsos e sentimentos que podem ser perturbadores, como traumas e dores reprimidas.

Esses conteúdos inconscientes continuam a influenciar nosso comportamento, muitas vezes de maneiras que não percebemos conscientemente. A psicanálise busca acessar o inconsciente através de métodos como livre associação, interpretação de sonhos e análise de atos falhos.

Segunda Tópica

A segunda tópica de Freud, também conhecida como modelo estrutural, procurou ampliar e desenvolver os conceitos presentes do seu antecessor. Sendo assim, atualizou caracterizações e apresentou novas noções sobre a psique humana.

Dessa forma, a segunda concepção do funcionamento do psiquismo de Freud trabalhou com os conceitos de id, ego e superego.

Id

O id é a parte impulsiva (e inconsciente) da nossa mente, além de responder direta e imediatamente a impulsos, necessidades e desejos básicos. Sendo assim, ele se envolve no processo primário de pensamento, que é primitivo, ilógico, irracional e orientado à fantasia.

Dessa forma, é possível observar que o id é regido pelo prazer, ou seja, é orientado pelos instintos e paixões internas. Trata-se de um grande reservatório da libido, do qual o ego procura se distinguir através de vários mecanismos de repressão.

Ego

Enquanto o id reforça o princípio do prazer, o ego está relacionado com as demandas da realidade. Dessa forma, está preocupado em atender as percepções do mundo real, além de estar associado a questões de razão e sanidade.

Desse modo, o ego é importante, pois ajuda a controlar os impulsos do id e faz com que as pessoas atuem de forma socialmente aceita e realista. Trata-se de atuar como um equilíbrio entre os nossos impulsos básicos, nossos ideais e a realidade.

Superego

O superego é o último aspecto da psique presente e ele contém nossos ideais e valores. Nesse sentido, representa os valores e crenças que aprendemos desde pequenos pelos nossos pais e pela sociedade, então, serve para reforçar o sentido de agir de acordo com a moral.

Dessa forma, o superego atua duas formas: pretende persuadir o ego a se voltar para objetivos moralistas, além de controlar os impulsos do id, principalmente aqueles proibidos pela sociedade, como sexo e agressão.

Teoria psicanalítica: escolas de pensamento

Ao falarmos de teorias psicanalíticas não é possível citarmos somente uma escolástica. Apesar de Freud ser o criador dos primeiros conceitos, os termos evoluíram conforme o tempo e diversos autores contribuíram com novas visões sobre a área.

Dessa forma, iremos compreender os diferentes campos de conhecimento que existem em relação ao conceito de psicanálise.

Psicanálise freudiana

Como vimos, a teoria de Freud foi a primeira a tratar sobre psicanálise. Além disso, o arcabouço conceitual está amplamente baseado nos conceitos encontrados na Segunda Tópica, que abordam o id, o ego e o superego.

Entretanto, um dos principais elementos que encontramos no manejo clínico desse tipo de abordagem é a associação livre, que consiste, basicamente, na pessoa expressar livremente as ideias que surgem na mente e sem qualquer julgamento prévio.

Ainda, Freud trabalha com a ideia de conflitos psíquicos, que são o resultado do embate entre nossas forças instintivas e repressoras. A teoria freudiana também considera importante a análise dos sonhos como uma forma de acessar o inconsciente.

Psicanálise lacaniana

A psicanálise lacaniana, desenvolvida por Jacques Lacan, introduz diversas ideias complexas que reconfiguram a abordagem freudiana original. Central para Lacan é a noção de que o inconsciente não é apenas um reservatório de desejos reprimidos, mas também é estruturado pela linguagem e pela cultura.

Além disso, Lacan redefiniu conceitos fundamentais da psicanálise, como o ego, o id e o superego, em termos de sua teoria dos três registros: o registro imaginário (relacionado à identificação e à imagem do eu), o registro simbólico (que se refere à ordem da linguagem, dos significantes e da cultura) e o registro real (o inacessível e traumático).

A psicanálise lacaniana enfatiza a importância da linguagem na formação da identidade e na estruturação dos desejos inconscientes. Ela também introduz a ideia de que o sujeito está constantemente dividido entre o que é consciente e o que é inconsciente, o que cria tensões e contradições que são essenciais para a compreensão da experiência humana.

Psicanálise winnicottiana

A psicanálise winnicottiana, desenvolvida por Donald Winnicott, é centrada principalmente na relação entre mãe e bebê nos estágios iniciais do desenvolvimento humano. Uma de suas ideias centrais é a noção de “objeto transicional”, que é um objeto (como um cobertor ou um brinquedo) que o bebê usa para se tranquilizar na ausência da mãe. Este objeto ajuda o bebê a transitar entre o mundo interno (fantasia) e o mundo externo (realidade).

Winnicott também enfatiza a importância do ambiente facilitador, ou seja, a mãe (ou figura cuidadora) que adapta suas respostas às necessidades emocionais do bebê, promovendo um ambiente seguro e confiável. Ele introduziu o conceito de “espaço potencial”, que é o espaço intermediário onde o bebê pode explorar e desenvolver sua identidade sem medo de ser julgado ou rejeitado.

Além disso, a psicanálise winnicottiana destaca a importância do “falso self” (falso eu), que é uma máscara adaptativa que o indivíduo desenvolve para se proteger das exigências do ambiente.

Como é consultar com um psicanalista?

A psicanálise, geralmente, requer um investimento de esforço e tempo. Inclusive, existem terapias de curta duração nessa área, porém, o trabalho psicanalítico requer, na maioria das vezes, um maior prazo para fazer efeito.

E o que faz um psicanalista? Bem, o tratamento envolve incentivar o paciente a recordar suas experiências e a desembaraçar as fixações que se acumularam em torno dela. Desse modo, o objetivo é tornar as pessoas menos dependentes, além de desenvolver uma maneira mais funcional de entender e aceitar mudanças da vida.

As sessões psicanalíticas

As primeiras sessões, geralmente, assumem a forma de uma avaliação. Durante esse período, o terapeuta pode fazer perguntas sobre a história e os problemas de uma pessoa, ou pode simplesmente ouvir o que ele tem a dizer. O objetivo principal é entender a natureza das dificuldades do paciente.

Nos contextos de longo prazo, os terapeutas adotam posturas menos ativas e deixam o indivíduo conversar mais e definir a direção. O terapeuta ouvirá com muita atenção e, com o tempo, ajudará o paciente a reconhecer padrões e o significado mais profundo do que foi dito e como isso se relaciona com os desafios de sua vida.

Nesse sentido, é comum que as sessões comecem com o paciente transformando todos os pensamentos e sentimentos em palavras. Apesar disso parecer desconfortável a princípio, tal conduta permite que problemas apareçam de forma mais evidente.

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