Há muitos sentidos para a vida. Debater o tema é abstrato e complexo, portanto, vou partir da visão da filosofia existencialista, pois é a abordagem que sigo na minha prática clínica.

Antes de começar, gostaria de destacar alguns filósofos existencialistas importantes de serem destacados: o dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), o alemão Martin Heiddeger (1889-1976) e o francês Jean Paul Sartre (1905-1980), seu conterrâneo Merleau Ponty (1908-1961) e o argelino Albert Camus (1913 – 1960).

Em geral, esses filósofos acreditavam que não há um sentido natural e prévio a ser dado para nossa existência. Simplesmente nascemos em determinado local, época, contexto socioeconômico, sistema político, estrutura familiar e temos que lidar com tudo isso. Ou seja, não escolhemos nada e somente estamos aqui. São nossas contingências.

Essência e existência

Segundo a vertente do pensamento existencial, nem mesmo escolhemos nascer. Então, precisamos a partir da nossa existência buscar um sentido para tudo, isto é, construir uma espécie de significado para a nossa vida.

Sartre usa o exemplo do cortador de papel para tratar do assunto. Nesse sentido, o cortador de papel não vai poder fazer nada além de cortar papel. O sentido de sua existência dele já está determinado.

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No caso do cortador de papel e demais seres, como os minerais, plantas, todos animais (com exceção do homem), objetos, máquinas, edificações, sistemas sociais, religiosos, econômicos e políticos, a essência precede a existência.

Sendo assim, ou eles são criados e convencionados pelo homem, ou já existem com funções pré-determinadas que sempre serão manifestadas de determinada forma.

Por exemplo, uma cadeira sempre se comportará como cadeira, assim como um cachorro sempre se comportará como um cachorro. Esse último já nasceu dotado de comportamentos e instintos que vão determinar e garantir sua sobrevivência. Tais seres são limitados e previsíveis.

O sentido da vida para a humanidade

Em relação aos homens, isso é diferente. Segundo a maioria desses filósofos, os seres humanos não foram criados para nenhum propósito, então, somos nós mesmos que devemos dar sentido a nossa existência.  Dessa forma, a existência precede a essência e o indivíduo deve produzir sua própria essência.

Como seres conscientes, estamos sempre querendo preencher o “vir a ser” que na realidade é a verdadeira “essência” do nosso ser. Queremos nos transformar em coisas, completas em si mesmas, “cortadores de papéis”, em vez de permanecer perpetuamente num estado de incompletude, em que as possibilidades estão sempre irrealizadas.

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O homem passa toda sua existência em um processo de devir. Estamos sempre abertos às novas possibilidades de reinvenção partindo de um determinado contexto existencial possível. Sartre defende que não importa o que foi feito do indivíduo, e sim o que o indivíduo faz com aquilo que foi feito dele. A resistência é intrínseca à liberdade e ao humano.

No entender de Sartre, estamos condenados à liberdade. Nesse sentido, cada ato contribui para definir como nos apresentamos ao mundo. Sendo assim, em qualquer momento podemos começar a agir de modo diferente e desenhar um retrato diferente de nós mesmos.

Há sempre uma possibilidade de mudança e de começar a fazer um tipo diferente de escolha. Temos o poder de nos transformar indefinidamente, sempre considerando nosso contexto existencial.

A tentativa de fuga

Sartre define como “má-fé” a tentativa de fugir da angústia da liberdade ao dissimular que não somos livres. Sendo assim, algumas pessoas tentam se convencer que as suas atitudes e ações são determinadas pela sua personalidade, horóscopo, situação ou por qualquer outra coisa fora de delas mesmas.

Segundo o filósofo, nenhum motivo ou resolução passada determina o que fazemos agora. Cada momento requer uma escolha nova ou renovada. Mesmo que não fizermos nada, uma escolha já está sendo realizada: o não agir.

Desse modo, negar a liberdade a fim de fugir da angústia da escolha é uma tomada de posição covarde, porque procura achar repouso e segurança na confortável ilusão de ser uma essência acabada.

Escolher gera muita angústia, pois não há nenhuma garantia em relação aos resultados que almejamos. Portanto, o existencialismo se contrapõe ao essencialismo, à medida que defende que não somos determinados. Nós somos aqueles que determinam dentro de certo contexto existencial.

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Desde que me formei em Psicologia em 2002, já iniciei meus atendimentos em consultório, onde estou até hoje. Logo em seguida fiz cursos na área clínica em Gestalt-Terapia e Psicoterapia Existencial. Dediquei-me também aos estudos de mestrado e doutorado voltados a Psicologia Social, Sexualidade e Envelhecimento. Além disso, sou plantonista voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV) desde 1998, prestando apoio emocional, psíquico e prevenção do suicídio. É importante mencionar que atuei cinco anos como Psicólogo Clínico no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. Quando solicitado, palestro em escolas, ONGs, etc. Em 2013 lancei o livro "Travestis Envelhecem?" e em 2017 o meu segundo, intitulado "Homofobia Internalizada: o preconceito do homossexual contra si mesmo" ambos pela editora Annablume. Atuo como Psicólogo voluntário em uma ONG que presta amparo ao LGBTQIAP + idoso dentre outras. Também leciono no Centro Universitário São Roque. Atendimento a partir dos 18 anos de idade.

1 COMENTÁRIO

  1. A Bíblia nos diz que Deus criou os seres da Natureza inclusive nós! Com certeza o Criador não nos criaria para sermos rebanho, mas conduzir! Por isso cautela com a comodidade dos APP/s, Delivery, Home Office e Auto Atendimento (esse último, ontem me lembrei do Chaplin – Tempos Modernos – o Supervisor de Supermercado conduzindo clientes a “exercer” a função de caixa)! É maravilhoso você olhar para trás e poder dizer de si: fui intenso e Não turistei no trabalho e nem na caminhada existencial! Seja protagonista da sua história: conselho que deixo a quem ler esse comentário!

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