Tratar de sexualidade na sociedade nunca foi fácil. O termo é amplo, porém a resistência das pessoas quanto ao tema prejudica a sua assimilação. A educação é fundamental não somente para a quebra do tabu, mas para proteger a saúde das pessoas, pois, assim conseguirão compreender plenamente os riscos e benefícios envolvidos.
De acordo com a UNAIDS, a educação integral em sexualidade humana contribui para o aumento do uso de preservativos e contraceptivos e reduz o risco da transmissão de doenças . Além disso, o maior conhecimento do assunto, segundo o órgão, contribui para um início tardio das relações sexuais e na diminuição da frequência dos atos sexuais e do número de parceiros.
Conhecer é imprescindível. Saber dos limites do nosso próprio corpo e aprender a respeitar o próximo nos torna pessoas melhor resolvidas. A compreensão resulta numa melhora de vida, mas para isso voltamos ao início: ao conhecimento.
O que é sexualidade?
Sexualidade é um termo amplo e que não possui significado único. O conceito de sexualidade é fluido e definí-lo é uma tarefa ingrata. Tanto o é, que a comunidade acadêmica não possui consenso quanto a sua acepção. O que observamos, no entanto, são pesquisadores tentando se aproximar do termo e definindo-o para seus trabalhos.
Stephen Goettsch, em seu artigo “Esclarecendo conceitos básicos: Conceituando sexualidade”, definiu a sexualidade como “a capacidade individual de responder a experiências físicas capazes de produzir excitação genital centrada no corpo, que só posteriormente se torna associada a construtivos cognitivos (seja antecipando de novas experiências ou refletindo experiências passadas) independente de experiências físicas em curso”. A definição foi dada em 1989.
Em 2006, a OMS propôs um conceito sobre sexualidade mais moderno. Assim, compreendeu diversas esferas da vida humana e sinalizou a sexualidade como parte integrante e fundamental da vida dos indivíduos, de forma que ela contribui com a identidade pessoal e para o equilíbrio físico e psicológico.
Segundo a entidade internacional, sexualidade é “um aspecto central do ser humano ao longo da vida que engloba sexo, identidades e papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. A sexualidade é experimentada e expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Embora a sexualidade possa incluir todas essas dimensões, nem todas elas são sempre experimentadas ou expressas. A sexualidade é influenciada pela interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais, legais, históricos, religiosos e espirituais”.
Tendo isto em vista, sexualidade não possui idade. Podemos falar de sexualidade na infância e de sexualidade na terceira idade. Entretanto, é importante saber como tratar desse assunto com as diferentes faixas etárias. A UNESCO, em 2018, produziu um documento chamado “Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade”, no qual aborda o tema conforme o desenvolvimento humano. Confira abaixo:
– De 5 a 8 anos : É natural que os humanos desfrutem de seus corpos e estejam próximos aos outros por toda a vida;
– De 9 a 12 anos: Os seres humanos nascem com a capacidade de desfrutar de sua sexualidade ao longo da vida. É natural ter curiosidade sobre sexualidade e é importante fazer perguntas para um adulto confiável;
– De 12 a 15 anos: Sentimentos, fantasias e desejos sexuais são naturais e ocorrem ao longo da vida, embora as pessoas nem sempre escolham agir de acordo com esses sentimentos;
– De 16 a 18 anos: A sexualidade é complexa e inclui dimensões biológicas, sociais, psicológicas, espirituais, éticas e culturais que evoluem ao longo vida útil.
A relação da sexualidade e vida saudável
Como vimos, a sexualidade engloba diversas esferas da vida. Sendo assim, conforme compreendemos melhor a nossa própria sexualidade, conseguimos visualizar de forma mais clara quem nós somos.
O autoconhecimento da sexualidade reflete diretamente numa vida saudável. Isso ocorre, pois, a partir do momento que entendemos melhor quem nós somos, conseguimos lidar melhor com nós mesmo e tomar decisões que realmente queremos. Viver da maneira que desejamos e como queremos é ter uma vida saudável.
Procurando entender o elo entre sexualidade e vida saudável, a pesquisadora Ragnar Anderson escreveu o artigo “Sexualidade positiva e seu impacto no bem-estar geral”.
Nele, ela descreve três aspectos positivos da sexualidade: a satisfação sexual, a autoestima sexual e o prazer sexual. Esses componentes quando bem resolvidos pela pessoa, influenciam positivamente a nossa vida em diferentes aspectos:
– Saúde sexual: Aumento do uso de contraceptivos e diminuição do comportamento de risco;
– Saúde mental: Aumento da subjetividade sexual e da assertividade sexual e melhor comunicação com o parceiro;
– Saúde física: Aumento da longevidade e diminuição do estresse e da ansiedade.
Por fim, o conjunto desses fatores leva ao bem-estar geral da pessoa, que, segundo o estudo, melhora a qualidade dos nossos relacionamentos e também influencia numa maior satisfação das pessoas com a vida.
Nesse sentido, “os aspectos positivos e as experiências da sexualidade estão interligadas com uma série de resultados da saúde. A crescente atenção às maneiras pelas quais a sexualidade impacta positivamente a qualidade de vida é uma mudança bem-vinda e importante no discurso da saúde sexual”, a pesquisadora comenta.