O TOC é um distúrbio psicológico incapacitante, mas capaz de ser tratado

Todos os dias, Melvin tranca a porta de sua casa e se certifica 4 vezes de que realmente a trancou. Ao andar na rua, ele toma extremo cuidado para não pisar nas listras da calçada e olha frequentemente em direção ao chão para ter certeza de que não vai pisar nelas. No restaurante, ele leva seus próprios talheres e, antes, durante e após realizar sua refeição, lava as mãos incansavelmente.

Esse comportamento te pareceu estranho ou perfeitamente normal? Melvin, personagem de Jack Nicholson no filme “Melhor é Impossível”, sofre de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo).

Com certeza você já deve ter ouvido falar sobre o TOC. Estranho é pensar que é comum se deparar com pessoas como Melvin, que lavam as mãos diversas vezes ao dia, não saem de casa sem antes checar a bolsa várias vezes, não conseguem ver nada fora do lugar ou que arrumam e limpam excessivamente, entre outras atitudes corriqueiras.

No dia a dia, às vezes, falamos “Fulano tem TOC de limpeza”, porém, não necessariamente a pessoa tem o transtorno. O TOC é uma doença e não uma simples mania. Trata-se da mentalização de regras e obrigações que fazem com que seus portadores obedeçam atos compulsivos, sendo eles físicos ou até mesmo mentais.

O propósito dessa atividade repetitiva é aliviar a ansiedade e o incômodo de pensamentos desagradáveis, mas que são constantes. Erroneamente, as pessoas pensam que qualquer mania e preocupação com organização significa ter TOC, e, frequentemente, usam esse termo para se referir a esses tipos de atitudes. “Ah, mas você limpa a casa toda a hora, que TOC!”

O que é TOC?

Apesar dessa introdução ainda fica a dúvida sobre o TOC: o que é, afinal? Bem, para início de conversa, o Transtorno Obsessivo Compulsivo possui CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) de F 42.0.

Além disso, de acordo com o Manual MSD, o TOC (Transtornada Obsessiva Compulsiva) é “caracterizado por pensamentos, impulsos e imagens (obsessões) recorrentes, persistentes, indesejados e intrusivos e/ou por comportamentos repetitivos ou atos mentais que os pacientes são impelidos a fazer (compulsões) para tentar diminuir ou prevenir a ansiedade que as obsessões causam”.

Dessa forma, é possível observar entre as suas suas principais características crises recorrentes e corriqueiras originadas de pensamentos obsessivos, ou, dependendo do caso, também com comportamentos compulsivos e cansativos por serem repetitivos.

LEIA MAIS: Como a saúde mental impacta o sistema imunológico

Para entender melhor o que é Transtorno Obsessivo Compulsivo, tente comparar a pessoa que possui TOC com um disco riscado, isto é, que repete sempre aquele ponto. Assim, quando menos se espera a pessoa não consegue controlar ou bloquear os impulsos.

Geralmente, toda essa repetição vem acompanhada de um medo, nesse sentido, a pessoa sempre pensa que algo de ruim irá acontecer caso ela não faça o que lhe passa na mente. É como um jogo com regras e obstáculos pré-estabelecidos pela própria pessoa através de comportamentos irracionais.

De acordo com diversas pesquisas, acredita-se que 2% da população mundial sofre drasticamente com a doença de TOC. Em números, esse índice traz uma média de 152 milhões de indivíduos afetados com o problema.

Segundo a apuração de dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2020, o distúrbio psicológico está figurado entre os 10 motivos mais importantes de comprometimento por doença. No Brasil, o TOC afeta mais de 8 milhões de pessoas.

O que é obsessão?

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, conhecido por DSM-V, as obsessões “são pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados como intrusivos e indesejados”.

Dessa forma, é importante compreender que esses pensamentos e impulsos, geralmente, causam angústia e ansiedade acentuada para o indivíduo. Além disso, o Manual MSD coloca que “o tema dominante dos pensamentos obsessivos pode ser dano, risco de si mesmo ou outros, perigo, contaminação, dúvida, perda ou agressão”.

As obsessões não são prazerosas, aliás, são agonizantes. Por conta disso, vários pacientes tentam ignorar esses pensamentos, mas, boa parte deles acaba neutralizando esses impulsos encenando uma compulsão.

O que é compulsão?

Segundo o DSM-V, as compulsões “são comportamentos repetitivos ou atos mentais que um indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser aplicadas rigidamente”.

É interessante perceber que as compulsões também podem ser chamadas de rituais, pois são caracterizadas por comportamentos excessivos repetitivos e intencionais. Ademais, elas podem estar diretamente relacionadas com o evento temido ou não.

Dessa forma, as pessoas sob essa condição sentem que devem fazer algo a respeito para prevenir ou reduzir a ansiedade causada pelos pensamentos obsessivos. Então, aparece o comportamento compulsivo.

Causas do TOC

Agora que já vimos o que significa TOC, temos que saber entender quais os motivos que leva alguém a desenvolver essa condição. Existem diversas pesquisas que buscam compreender completamente a causa do TOC. Dentre as principais estão listados três fatores: biologia, genética e meio ambiente.

Acredita-se que algumas alterações que acontecem no nosso corpo e cérebro e a predisposição genética com possíveis distúrbios nos genes, favorecem o aparecimento do transtorno. Portanto, estudos mostram que o TOC é genético, mas não é o fator único ou central.

LEIA MAIS: 5 iniciativas para promover saúde mental no trabalho

Outra questão a ser levada em consideração é o meio externo, como as infecções, situações estressantes e o estilo de vida do indivíduo. Sendo assim, o meio ambiente também pode ter uma influência grande nesse quesito.

Além disso, fatores psicológicos também podem corroborar para que o TOC dê as caras. Pessoas que aprenderam de forma errada como lidar com seus medos e ansiedades, podem encontrar nos rituais a segurança e confiança necessárias para conseguirem realizar uma atividade.

TOC: Sintomas

O TOC é um transtorno que nem sempre é associado como um distúrbio. Isso acontece pelo uso errado da sua terminologia, além das confusões do termo com algumas manias existentes.

Por conta disso, é fundamental saber identificar os sinais que o Transtorno Obsessivo Compulsivo dá. Dessa forma, é possível buscar ajuda o quanto antes para tratar essa questão dificultadora.d

Vale ressaltar que o TOC pode ser refletido em um pensamento obsessivo ou em alguma atitude compulsiva. É importante fazer tal distinção para entender melhor a extensão do transtorno.

Sendo assim, esses sintomas interferem em diferentes aspectos da vida e causam alterações no comportamento, pensamento e emoções dos envolvidos. Como consequência, muitos sentem medo da situação e evitam repetir contextos em que podem provocar esses sentidos.

Confira aqui os principais sintomas de Transtorno Obsessivo Compulsivo:

Sintomas de Obsessão

O transtorno obsessivo pode ser observado de diferentes maneiras. Por conta disso, elencamos as situações mais comuns dele:

  • Medo de contaminação ou sujeira;
  • Preocupação com simetria de objetos;
  • Pensamentos agressivos de autoagressão;
  • Pensamentos indesejados, incluindo de temas sexuais ou religiosos;
  • Preocupação com a ordem correta dos objetos.

LEIA MAIS: Confira aqui 7 sinais de TOC: o Transtorno Obsessivo Compulsivo

Sintomas de Compulsão

O transtorno compulsivo pode ser observado de diferentes maneiras. Por conta disso, elencamos as situações mais comuns dele:

  • Mania de limpeza;
  • Lavagem das mãos excessiva;
  • Verificação repetidamente das coisas;
  • Contagem compulsiva;
  • Repetição de ações;
  • Organização excessiva.

Exemplos de TOC

Sabendo da definição do transtorno, o TOC de pensamentos obsessivos pode vir em várias formas. É muito comum, por exemplo, encontrar pessoas que extrapolam no limite de seu fervor religioso e, há quem use o termo “TOC religioso” para se referir à essa situação.

Além disso, o TOC e ansiedade estão intimamente ligados visto que o TOC não deixa de ser uma ação realizada a partir de um pensamento ansioso. Por isso, é importante prestar atenção nos sintomas para a situação não piorar.

Como exemplo, as ideias mais obsessivas que ocorrem podem passar por:

  • limpeza;
  • medo de contaminação;
  • agressividade;
  • dúvida;
  • preocupação com ordem;
  • simetria;
  • pensamentos sobre o que te para fazer;
  • listas intermináveis;
  • pensamentos obscenos.

Tipos de TOC

Você sabia que existe mais de um tipo de TOC? Bem, apesar de geralmente ser tratado somente como uma única coisa, é possível verificar uma distinção sobre o transtorno. Afinal, precisamos ter em mente que ele afeta cada pessoa de uma maneira diferente.

O primeiro tipo é conhecido como por Transtorno Obsessivo Compulsivo subclínico. Nesse contexto, os rituais e obrigações referentes a uma situação, embora possam se repetir com frequência, não atrapalham a vida da pessoa. Ou seja, esse componente de impedimento é um fato crucial de diferenciação.

Logo em seguida, temos o Transtorno Obsessivo Compulsivo propriamente dito. Dessa forma, a realização dos rituais continuam até que o alívio da ansiedade seja atingido. A pessoa não consegue parar até que sinta uma suavização dos sintomas que está sentindo.

Diagnóstico do Transtorno Obsessivo Compulsivo

Então, como ocorre o diagnóstico do TOC? Bem, por conta da complexidade do tema e dificuldade de percepção do problema durante um exame, o médico irá realizar uma série de perguntas para conseguir determinar uma definição.

LEIA MAIS: Infográfico – Dados sobre TOC

Sendo assim, o diagnóstico será baseado, principalmente, na história que o paciente traz para o consultório. O profissional da saúde prestará atenção nos sinais e repetições dos atos ditos.

De acordo com o manual MSD, “o diagnóstico do transtorno obsessivo-compulsivo é clínico, baseado nas obsessões, compulsões, ou ambas. As obsessões ou compulsões devem ser demoradas (p. ex., 1h/dia) ou causar sofrimento ou comprometimento funcional importante”.

TOC tem cura?

Então, será que existe uma cura para o Transtorno Obsessivo Compulsivo? Bem, ao tratar sobre distúrbios psicológicos, é complicado dizer realmente existe uma cura, ou seja, que a pessoa nunca mais irá sofrer com aquilo.

Entretanto, não deve-se perder a esperança, afinal, mesmo não havendo uma cura, existe tratamento para o TOC. Nesse sentido, o procedimento será responsável por cuidar do paciente e reduzir os sintomas existente.

Então, como se livrar do TOC? Não é possível falar em cura, mas com um tratamento correto, a pessoa pode deixar de sentir todas as mazelas do problema. Então, não perca a esperança, pois há solução para esse caso.

TOC: Tratamento

O tratamento para TOC é fundamental para a remissão dos sintomas do distúrbio. Nesse sentido, a figura do psicólogo aparece para ajudar as pessoas que estão com esse problema.

Então, o indicado é que a pessoa procure um psicólogo para que o transtorno obsessivo-compulsivo não apresente complicações ou outras doenças psicológicas como a depressão, ataques de pânico, ansiedade, transtornos alimentares, tentativas de suicídio e tiques.

Dessa forma, o psicólogo analisará qual é o principal fator que causa o TOC. Além disso, o profissional será responsável por levantar técnicas e conversas sadias diante os traumas, agonias e medos passados.

Sendo assim, é importante que a pessoa com TOC crie uma lista com todos os sintomas, classificando quanto tempo eles apareceram. Apresentar um histórico médico incluindo doenças e medicamentos utilizados também é algo útil para o tratamento.

LEIA MAIS: Entenda porque é necessário o acompanhamento psicólogico para pessoas com TOC

Então, o paciente será interrogado com perguntas sobre detalhes das ações, frequência, intensidade, os rituais mais comuns, entre outros pontos importantes para se estruturar melhor um tratamento.

Ainda, uma das possibilidades de como controlar o TOC é a terapia cognitivo-comportamental. Nesse sentido, é sempre válido pesquisar sobre a metodologia para embarcar num tratamento com mais informação.

Aliás, vale lembrar que o TOC é uma doença crônica e que não tem cura. Mesmo assim, os sintomas oscilam dependendo muito dos períodos ao longo da vida. Também, existe a possibilidade da pessoa não ter nenhum sintoma aparente durante boa parte da vida.

Remédio para TOC

Sim, existem medicamentos para TOC, entretanto, eles não devem ser tomados sem a consulta prévia de um profissional da área. Caso seja necessário, o psicólogo irá indicar um médico psiquiatra para apontar as medicações pertinentes para ajudar na melhora do paciente.

Em relação ao tratamento com uso de remédios, os mais prescritos são os antidepressivos inibidores da serotonina. Porém, lembre-se a importância de falar com um médico antes de tomar qualquer medicamento.

TOC infantil

Sabemos que as crianças podem desenvolver algumas manias, seja por brincadeiras, ou por um comportamento obsessivo. Em entrevista ao site do Dr. Dráuzio Varella, o Dr. Fernando Ramos Asbahr afirma que “80% dos casos de Transtorno Obsessivo Compulsivo diagnosticados em adultos se manifestaram antes dos 18 anos e 50%, antes dos 15 anos.”

O que vai diferenciar o TOC de uma mania inocente é a frequência e a intensidade em que aparecem nas crianças. É preciso estar atento aos padrões de repetição que a criança demonstra e procurar um especialista para realizar um diagnóstico do quadro.

Famosos com TOC

Um dos casos mais populares de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) no Brasil é o do cantor Roberto Carlos. Em entrevista ao Fantástico, o músico da velha guarda explicou:

“Não é bem assim! Não são só manias. É a questão do TOC, o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Não se trata de se livrar dessa ou daquela mania, mas de tratar o problema como um todo. Determinadas coisas me angustiam hoje menos do que antes. Exemplo: o fato de você estar de preto não está me incomodando. Antes, eu poderia ficar um pouco incomodado.”

Uma das obsessões mais conhecidas dele é o fato de nunca usar a cor marrom e repetir azul com frequência. Outra curiosidade do rei é que ele retirou alguns clássicos de seu repertório, como “Negro Gato“, por também não ser muito chegado na cor preta.

Daniel Radcliffe

O ator britânico, famoso por interpretar o personagem Harry Potter no cinema, afirmou que possui o transtorno desde os 5 anos de idade. Ele criou o hábito de repetir sussurrando cada frase que dizia.

Megan Fox

A atriz americana do filme Transformers, não consegue utilizar os talheres de lugares públicos por conta da quantidade de bactérias que eles podem ter.

Cameron Diaz

Pode parecer estranho, mas a atriz americana Cameron Diaz lava suas mãos várias vezes ao dia e, para não infectá-las com bactérias, ela só abre portas com o cotovelo.

LEIA MAIS: Confira aqui mais famosos que têm TOC!

Embora muitas vezes tratado como algo engraçado, o TOC é uma doença e precisa ser levado à sério. O comportamento da pessoa com o transtorno atrasa a vida do paciente e paralisa atitudes que ele gostaria de ter, mas que por conta do problema, não o faz.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.