O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é um distúrbio que se desenvolve como resposta a um elemento estressor traumático, seja ele real ou imaginário. Além disso, possui significado emocional exponencial para desencadear uma série de efeitos psicológicos e neurobiológicos.

Nesse sentido, quando a pessoa se recorda do fato, a revivescência tem as mesmas características de estresse e de sofrimento que o agente estressor provocou. Na realidade, essa recordação precipita as alterações neurológicas, físicas e mentais, como se estivesse presenciando tudo de novo.

No cérebro, as alterações decorrentes do abalo emocional são uma tentativa de resposta de adaptação a ordem imposta pela desestruturação causada pelos eventos traumáticos. As mudanças são sentidas na estrutura neural, nos efeitos funcionais, nas cognições, nas impressões afetivas, nos comportamentos e nas reações fisiológicas.

Inclusive, pesquisadores de universidades nacionais e internacionais levantam a hipótese da causa estar no desequilíbrio dos níveis de cortisol ou na redução de 8 a 10% de córtex pré-frontal e do hipocampo, que são áreas localizadas no cérebro.

A extensão do trauma

Trauma é definido como uma situação experimentada, testemunhada ou confrontada pelo indivíduo, na qual houve ameaça à vida, a integridade física de si ou de pessoas ligadas a ele afetivamente.

Sendo assim, situações emocionais e essencialmente violentas podem causar traumas. Acidentes naturais (enchentes, incêndios, desabamentos), acidentes automobilísticos, assaltos, sequestros, estupros, guerras, atos terroristas e toda forma de violências urbanas são exemplos disso.

Aliás, quando ocorre esse pico de estresse no organismo de uma pessoa sadia, os hormônios são ativados, ou seja, existe toda uma reação neurofisiológica e psíquica. Porém, quando a situação normaliza, essas liberações orgânicas cessam e o psíquico tem o seu grau de ansiedade diminuído e a pessoa segue adiante.

Nas situações de grande estresse, esse sistema sofre graves alterações de implicações variadas e tempo indeterminado. Dessa forma, quanto maior a história de vida pregressa da pessoa, quanto maior for a exposição ao evento traumático e quanto mais intensa forem as formas de sofrimento ao longo da vida, mais grave será a reação ao estresse e maior será a possibilidade do desenvolvimento de perturbação psíquica.

Consequências do trauma

Extensivo ao trauma vivido por vítimas, não podemos deixar de enquadrar as sequelas de graus variados e os efeitos adversos na família. Então, qual o custo social, econômico e educacional de uma criança que perde o pai ou a mãe num acidente de trânsito ou num assalto?

Além disso, é preciso pensar ainda nas consequências e sequelas desses eventos. Afinal, qual o custo social e econômico de uma deficiência grave, como uma paraplegia ou tetraplegia, por um alagamento ou um soterramento para um ajustamento pessoal, familiar e profissional?

Não obstante, há os custos com resgates, assistência hospitalar, reabilitação, perda de capacidade produtiva, gastos previdenciários, danos a terceiros, administração de seguros, etc…. Quais as sequelas invisíveis que não são discutidas, amparadas ou resolvidas nas políticas públicas de uma sociedade?

Essas são questões poucas discutidas e que precisam de maior atenção. Os traumas possuem consequências muitas vezes não vistas, mas que deixam reminiscências e restos difíceis de lidar ao longo da vida.

Quadro clínico e sintomatologia

Reexperiência traumática

Mesmo com o perigo afastado, o indivíduo revive o ocorrido continuadamente, ou seja, ele permanece vivenciando o trauma como uma experiência presente. Nesse sentido, tal circunstância Incapacita a pessoa de retomar o curso de vida.

É como se o trauma parasse no momento em que ocorreu.  As imagens, sons, odores, náuseas, tonturas, medos, pavor, terror, podem aparecer nos sonhos ou pesadelos e na revivescência do evento.

Esquiva e distanciamento emocional

A repetição da experiência traumática causa um sofrimento tão grande na pessoa, que pode refletir num afastamento emocional. Dessa forma, o indivíduo busca se afastar de qualquer estímulo que possa desencadear o ciclo de lembranças traumáticas.

A esquiva ativa de sentimentos, pensamentos, conversas, situações e atividades associadas ao trauma, então, são um mecanismo de defesa contra a ansiedade desencadeada. As estratégias da esquiva são: evitar falar, uso de bebidas alcoólicas ou drogas, compulsões como jogo, sexo, etc.

Desse modo, o indivíduo tenta reorganizar sua vida, evitando situações ou lembranças que remetem ao trauma. Assim, a pessoa volta toda a sua energia psíquica para essa fuga e isso acarreta num “não pensar”, “não sentir”, “não planejar”. Tal ação restringe a expressão afetiva, o que causa uma anestesia nos sentimentos.

Hiperexcitabilidade psíquica

Humor ansioso, taquicardia, respiração curta, constrição precordial, formigamentos, parestesias, sudorese, extremidades frias, cefaléas, além da insônia, irritabilidade e explosividade. Esses são alguns dos sintomas da condição.

As pessoas nesse estado passam do estímulo à ação sem passar pela reflexão ou avaliação do estímulo provocador. Sendo assim, estão sempre em estado de alerta, em vigilância e sempre esperando o pior. Há uma generalização do medo como percepção de um mundo inseguro e imprevisível.

O diagnóstico do Transtorno de Estresse Pós-Traumático

É muito importante um diagnóstico adequado e correto no reconhecimento dos sintomas do TEPT, tanto pela prevalência do transtorno, quanto pelo comprometimento que acarreta ao indivíduo, sua família e, consequentemente, à sociedade.

O bom diagnóstico tem que reconhecer e legitimar a condição clínica derivada do trauma psicológico. Então, deve fundamentar-se nos sintomas intrusivos, na ativação aumentada e nos sintomas de embotamento e evitação.

Ainda, é necessário atenção quando o fator estressor é transitório e pode ser aliviado, pois esses sintomas diminuem gradativamente entre 48 horas a quatro semanas. Aliás, na cronicidade do transtorno, às vezes, ele vai “mutando” com o tempo, e demora de 24 a 48 meses após o trauma para apresentar a remissão desses traços.

Além disso, é preciso ter atenção com as comorbidades, pois 80% das pessoas com TEPT já sofrem com depressão, perturbações de pânico e uso de substâncias químicas em quadros compulsivos.

As equipes de saúde, por ser esse um quadro relativamente recente, não estão treinadas para o diagnóstico diferencial do Transtorno de Estresse Pós-Traumático, o que acarreta num tratamento medicamentoso e psíquico não adequado.

Como lidar com o TEPT

O TEPT pode gerar diversas implicações na qualidade de vida do indivíduo. Por conta disso, é fundamental procurar alternativas para lidar com ele. Inclusive, segue abaixo algumas dicas de como minimizar e amenizar o Transtorno de Estresse Pós-Traumático:

– lidar melhor com as experiências negativas;

– boa autoestima;

– sentimentos de autoeficácia;

– ações positivas em relação à vida;

– capacidade de ressignificar situações;

resiliência.

Além disso, procurar tratamento é imprescindível. Ele deve ser médico com introdução de medicamentos, na maioria das vezes, e principalmente, psicoterápico. Aliás, é fundamental frisar a atuação concomitante desses dois procedimentos.

É importante lembrar que quando bem conduzido o tratamento, médica e psicologicamente, o TEPT pode gerar crescimento. Assim, é possível ocorrer mudanças de valores e atitudes, possibilitando um significado maior na dimensão do existir humano.

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Psicóloga formada em 1982, me especializei em Psicoterapia Breve e Psicologia Hospitalar, tendo feito mestrado em Psicologia da Saúde. Toda minha vida profissional foi fundamentada numa postura ética humana, tendo trabalhado como psicoterapeuta (analítica dinâmica) em meu consultório, psicologia oncológica e psicologia hospitalar (UTI de adultos - politrauma, cardiologia e neurologia), sala de Emergência (atendendo tentativas de suicídio por intoxicação e dependência química) e também atuado como professora de Psicologia Educacional, em escolas estaduais no início de carreira, nas Faculdades Oswaldo Cruz (curso de especialização em Oncologia) e na UNICID (matéria de toxicologia clínica na Faculdade de Medicina e Psicologia Forense na Faculdade de Direito). No hospital fui Chefe da clínica de Psicologia Hospitalar (por três anos) e na clínica de oncologia coordenei a equipe multiprofissional. Atualmente atendo clinicamente, e desenvolvo um trabalho de mentoria.

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