Segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), são cerca de 6 milhões de pessoas no Brasil diagnosticadas com transtorno bipolar.

O professor Patrick Solitano flagrou a esposa com outro homem e, num acesso de fúria, espancou o sujeito. Pat foi obrigado a passar 8 meses em um hospital psiquiátrico para curar os sintomas de sua doença: o transtorno afetivo bipolar. Ele então tem um novo objetivo: tratar a sua doença e reconquistar, a qualquer custo, a ex-mulher. Esse é o enredo do filme O Lado Bom da Vida, estrelado por Bradley Cooper (Pat) e Jennifer Lawrence (Tiffany).

Mas a doença não é coisa de cinema. Os distúrbios de oscilação do humor afetam cerca de 10% da população mundial. Antigamente, o transtorno recebia outra nomenclatura:  psicose maníaco-depressiva. Porém, em 1980, entendeu-se que os termos “psicose” e “mania” eram muito estigmatizados e remetiam, de cara, à loucura. Não que os termos estavam errados! Eles descreviam, sim, episódios marcantes da doença, já que durante as crises as pessoas ficam psicóticas, ou seja, sofrem alterações na pisque que produzem delírios.

A palavra “maníaca” vem de “mania”, e descreve o extremo de euforia, em que os níveis de energia estão elevados e os limites entre a prudência e o perigo são atravessados. Mas, para se livrar do estigma e trazer termos mais corretos ao que o transtorno realmente é, decidiu-se por “transtorno afetivo bipolar”.

O que é ser bipolar?

O transtorno afetivo bipolar é uma doença crônica caracterizada pela alternância entre dois polos: o depressivo e o eufórico. Essas mudanças podem ocorrer de forma súbita e intensa. 

O polo depressivo pode carregar características similares as de um quadro de depressão, como a perda de interesse e prazer nas atividades que antes o paciente realizava, pessimismo, baixa autoestima, insônia e isolamento. Esse estágio também pode ser conhecido como transtorno bipolar depressivo.

Já no polo da mania, o indivíduo se sente eufórico, alegre, autoconfiante, hiperativo e muito falante. Porém, possui alguns sintomas psicóticos como delírios de grandeza, aumento da libido e atividade sexual, falta de avaliação em situações de risco, além de se tornar bastante irritável.

A pessoa bipolar experimenta essas flutuações de humor cujos efeitos negativos em sua vida são enormes, já que atuam sobre as atitudes e reações, sendo essas, geralmente desproporcionais às situações.

Não precisamos ir para uma galáxia longe daqui para ver a doença em pessoas do nosso convívio. A eterna Princesa Leia, Carrie Fisher, da saga Star Wars, lutou contra o transtorno bipolar e ajudou muitas outras pessoas a lidarem com o problema. Em uma carta escrita para o The Guardian, a atriz contou como foi diagnosticada e o que fez para controlar a doença.

 “Descobri que era bipolar aos 24 anos mas não fui capaz de aceitar o diagnóstico até os 28 anos quando tive uma overdose e finalmente fiquei sóbria. Só nesse momento eu fui capaz de perceber que nada mais poderia explicar o meu comportamento.”

Ela enfatizou a importância de procurar ajuda profissional e se rodear de pessoas que nos ajudem. “Nós sofremos de uma doença desafiadora, e não existe outra opção além de enfrentar esse desafio.” Em 2016, Carrie Fisher morreu aos 60 anos em decorrência de uma apneia do sono, complicações cardíacas e outros fatores.

Sintomas de transtorno bipolar

Existem alguns sinais que nos ajudam a identificar as características de uma pessoa bipolar. Porém, somente o psiquiatra ou psicólogo podem fornecer um diagnóstico da doença, pois utilizam métodos e técnicas de como identificar uma pessoa bipolar.

Fique atento às seguintes alterações:

Humor:

  • raiva;
  • ansiedade;
  • apatia;
  • angústia;
  • euforia;
  • descontentamento geral;
  • culpa;
  • perda de interesse e prazer em atividades;
  • tristeza;
  • mudanças súbitas de humor (ciclo circadiano do humor, ou seja, acordar sem energia e triste, mas ir melhorando ao longo do dia.)

Comportamental:

  • agressividade;
  • agitação;
  • choro excessivo;
  • hiperatividade;
  • impulsividade;
  • irritabilidade;
  • autolesão.

Cognitivo:

  • falta de concentração;
  • pensamento e fala acelerados;
  • lentidão em atividades;
  • falsa imagem de superioridade;
  • ilusão.

Psicológico

  • depressão;
  • ansiedade;
  • episódios maníacos;
  • paranoia.

Físico:

  • excesso ou falta de sono;
  • ganho ou perda de peso;
  • fadiga;
  • inquietação.

Tipos de Bipolaridade

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM.IV) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), o transtorno bipolar pode ser classificado nos seguintes tipos:

Transtorno bipolar tipo 1

Os pacientes experimentam esse tipo de transtorno bipolar grave em fases depressivas e maníacas. Tanto em um, quanto em outro, os sintomas se apresentam de forma muito intensa, e , em casos mais graves, a necessidade de internação se faz necessária.

Transtorno bipolar tipo 2

Aqui, a fase maníaca, caracterizada pelo otimismo, euforia, autoconfiança e irritabilidade, se mostra de forma mais branda do que no tipo 1. Essa modalidade leve de mania leva o nome de “hipomania“. Nesse tipo, os episódios de mania não são completos e se alternam com os de depressão.

Transtorno bipolar não especificado ou misto

O paciente pode apresentar alguns sintomas que levem ao diagnóstico de transtorno bipolar, mas não é o suficiente para se enquadrar nem no tipo 1, e nem no tipo 2.

Transtorno ciclotímico

Muitos leigos referem-se a esse quadro da doença como transtorno bipolar leve por ser o menos complicado dentre os outros tipos. As oscilações de humor existem, assim como alguns sintomas, mas oferecem menos riscos à vida do paciente e das pessoas ao seu redor.

Como lidar com uma pessoa bipolar?

Existe muita dúvida acerca de como tratar uma pessoa bipolar, já que é difícil prever suas reações. É importante que tanto o paciente, quanto os amigos e familiares, procurem ajuda psicológica para receberem as instruções adequadas quanto aos procedimentos a serem adotados. 

Preste atenção aos sintomas e não banalize-os. Durante um surto psicótico bipolar, é importante tentar acalmar o paciente amenizando os gatilhos que o tira dos trilhos. Tire frases como “se acalme” ou “você está louco” do repertório. 

Durante a fase maníaca, o paciente pode se tornar compulsivo, e isso pode referir-se à compras, bebidas, planos mirabolantes, drogas e atividade sexual, por exemplo. Uma maneira de diminuir os riscos causados ao paciente e às pessoas ao redor é tentar restringir sua exposição aos fatores de risco.

Incentivar atividades relaxantes e o sono são ótimos aliados, pois nessa fase o paciente se torna inquieto e  irritadiço. Caso o quadro evolua para um alto nível de agressividade, procure um médico.

Na fase depressiva, a terapia aliada aos medicamentos podem ajudar a reduzir os efeitos negativos dos sintomas na vida da pessoa bipolar. Atividades prazerosas, companhia e paciência devem estar sempre presentes nos amigos e familiares que lidam com os bipolares.

Faixa etária

Não existe uma idade certa para que o transtorno apareça. Um idoso que nunca havia apresentado crises pode engatilhar o transtorno, assim como uma criança, jovem de experiências e ainda aprendendo coisas novas, começa a mostrar sinais de que algo não está bem.

Transtorno bipolar em crianças

É importante que os pais, professores e qualquer adulto que esteja em contato com a criança percebam os sintomas da bipolaridade e não os confunda com comportamentos típicos de sua personalidade. Crianças inquietas, cheias de energia e muito ativas podem apenas apresentar traços marcantes de personalidade.

O caso se torna preocupante se essas atitudes oscilam muito. Por isso, o acompanhamento psicológico é necessário para a obtenção de um diagnóstico assertivo e de um tratamento adequado, para que a criança não desenvolva ainda mais os sintomas e os leve para as demais fases da vida.

Transtorno bipolar na adolescência

As pressões da vida começam a dar as caras na adolescência com as transformações no corpo, contato com diferentes tipos de pessoas e lugares, fácil acesso ao álcool e drogas, além das complicações que a vida amorosa pode apresentar. São muitos fatores que o meio externo começa a provocar nos jovens, o que é um enorme gatilho para o transtorno bipolar aparecer.

Diferentemente da infância, em que o transtorno pode ser mascarado com a personalidade em formação da criança, na adolescência a doença pode ser mais fácil de ser diagnosticada, já que, com a personalidade desenvolvida, os sintomas são mais marcantes.

Entretanto, é nessa fase em que a falsa ideia de liberdade e o início das experiências elevam a intensidade do transtorno. Nos casos mais difíceis, o tratamento pode ser mais longo e tortuoso. 

Causas

Não se sabe ao certo as origens do transtorno bipolar, mas sabe-se que alguns fatores estão envolvidos no surgimento da doença.

Hereditariedade

Pequisas científicas explicam a importância dos genes na predisposição de distúrbios de oscilação de humor. Em parentes de 1º grau e irmãos gêmeos, os riscos da doença ser passado para os descendentes são elevados, assim como a combinação de pai e mãe instáveis, mesmo sem sofrerem de transtorno bipolar. 

Cérebro

Os neurotransmissores são vitais para o funcionamento do nosso corpo, pois são mensageiros químicos que transportam e regulam sinais entre neurônios e outras células.  O desequilíbrio em seu funcionamento pode ser um fator causador do transtorno bipolar. 

Ambiente

Sabe-se que o meio externo é um dos maiores causadores de doenças psicológicas, e o transtorno afetivo bipolar não ficaria de fora. Experiências traumáticas, abuso sexual ou psicológico, estresse e mudanças drásticas na vida do indivíduo corroboram para o surgimento da doença. O abuso de remédios, álcool e drogas ilícitas também fazem parte da lista de gatilhos.

Tratamentos para transtorno bipolar

A primeira pergunta que pacientes com o distúrbio e seus familiares fazem é: o transtorno bipolar tem cura? Infelizmente, por ser uma doença crônica, ele não possui cura, mas existem meio de controlar e diminuir seus sintomas e danos causados na vida de quem sofre da enfermidade.

O tratamento é realizado por médicos especialistas como psicólogos, psiquiatras e neurologistas. Para quem acha que o processo é rápido, se enganou. O tratamento é longo e profundo, pois os especialistas devem, primeiro, identificar os gatilhos da doença e, assim, encaminhar a metologia adequada. 

  • Psicoterapia: Ajuda o paciente a entender as crises e suas motivações, além de evitar a oscilação intensa entre as fases depressivas e maníacas. O especialista reproduzirá o comportamento autodestrutivo, a gravidade das crises e o impacto delas na vida do paciente.  

  • Medicamentos: Medicamentos reguladores do humor como os antipsicóticos, neurolépticos e antiansiedade são muito utilizados no tratamento da doença. O uso de antidepressivos devem ser observados de perto, pois embora diminuam as crises na fase depressiva, podem precipitar a fase maníaca. É importante retirar algumas substâncias da vida do paciente, como a cafeína, cocaína, anfetaminas pois agravam o quadro.

Transtorno bipolar em famosos

  • Ben Stiller;
  • Demi Lovato;
  • Catherine Zeta-Jones;
  • Jean-Claude Van Damme;
  • Sinead O’Connor;
  • Carrie Fisher;
  • Virginia Woolf;
  • Van Gogh;
  • Edgar Allan Poe;
  • Robert Schuman;
  • Winston Churchill.  

 

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